Com base no método do megainvestidor Luiz Barsi, especialistas apontam que é possível ter uma renda mensal quase três vezes maior na aposentadoria ao investir em ações que pagam dividendos. Felipe Ruiz e Louise Barsi no estúdio do g1
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Cerca de 70% dos quase 40 milhões de beneficiários do INSS recebem um salário mínimo — hoje em R$ 1.412 — como pagamento mensal. Os dados são do governo federal, referentes a fevereiro de 2024.
O valor, no entanto, ainda está bem abaixo do montante considerado necessário para que alguém consiga sustentar todas as necessidades básicas no país.
Um levantamento recente feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), de análise da cesta básica, por exemplo, indica que, para isso, uma pessoa precisa receber pelo menos R$ 6.946 — mais do que o quádruplo do salário mínimo atual.
Com base nesses dados, muitos especialistas em educação financeira tecem críticas ao funcionamento do INSS na atualidade e defendem a tese de que, para viver bem na aposentadoria, é necessário começar a investir quanto antes.
Entre as diferentes possibilidades de investimentos disponíveis no país — incluindo categorias bastante populares, como os fundos de previdência privada e os títulos do Tesouro Nacional — uma estratégia que chama a atenção do mercado é o chamado “método Barsi de fazer dinheiro”.
Pensado por Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física da bolsa de valores brasileira, esse método consiste em investir regularmente em empresas de setores perenes, com bons fundamentos e que pagam dividendos.
A ideia é que o investidor realoque o dinheiro que vem desses proventos até que seja possível viver da rentabilidade gerada por esses investimentos, sobretudo na aposentadoria.
Para entender mais sobre esse método, o podcast Educação Financeira entrevistou Louise Barsi, filha de Luiz Barsi, e Felipe Ruiz, cofundador do AGF, uma empresa voltada a difundir os conhecimentos de Barsi como investidor.
Veja, a seguir, os principais destaques da entrevista, ou ouça na íntegra.
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“A previdência social tem um objetivo muito nobre, pois garante ao trabalhador o direito constitucional de usufruir de uma renda suficiente para sustentar a si e a sua família. Mas infelizmente isso não está acontecendo na prática”, diz Louise Barsi.
O AGF produziu o documentário “INSS — a Bomba Relógio do Brasil”, que estreia nesta segunda-feira (10), para investigar o funcionamento da previdência social no país.
As principais conclusões do estudo foram que:
Para que a previdência social cumprisse seu objetivo de garantir uma vida tranquila na aposentadoria, o piso pago aos aposentados — que têm gastos maiores, principalmente pensando nos cuidados necessários com o avanço da idade — deveria ser, pelo menos, nove vezes maior que o salário mínimo;
No modelo de previdência pública que se tem hoje, é provável que os contribuintes do INSS que ainda são muito jovens não consigam obter uma renda suficiente para sustentar a si próprio e à sua família quando chegar sua vez de se aposentar.
Louise Barsi comenta que a reforma da previdência de 2019 não foi suficiente para garantir a continuidade do funcionamento da previdência pública a longo prazo.
“O que era emergencial foi feito, mas outras classes ficaram de fora, como militares e funcionários públicos civis de estados e municípios”, diz.
O ‘método Barsi de fazer dinheiro’
Felipe Ruiz explica como os dividendos podem ser uma opção para a aposentadoria
Para Felipe Ruiz, o objetivo do estudo sobre a previdência “não é apenas escancarar essa situação, mas sim mostrar possíveis soluções para a pessoa física, para o trabalhador não ficar dependente disso e não contar com alguma reforma para melhorar as condições no futuro”.
“A gente advoga por algo que a gente chama de ‘carteira previdenciária’, que é você se tornar sócio de boas empresas de capital aberto e ser remunerado por meio dos dividendos”, diz Ruiz.
Dividendos são uma pequena parcela paga ao investidor, que vêm do lucro obtido pela companhia em determinado período. Esse lucro é dividido proporcionalmente entre todos os acionistas da empresa.
A metodologia defendida por Louise e Felipe, desenhada por Luiz Barsi décadas atrás, diz que o investidor deve enxergar a bolsa de valores como um mercado. Há várias opções de empresas, mas apenas as melhores devem ser escolhidas para uma eventual alocação de recursos, de forma que o investidor mire na construção de um patrimônio seguro. (Leia sobre como escolher as empresas mais abaixo).
“A nossa proposta é que as pessoas olhem a bolsa como previdência, não como uma aposta”, comenta Louise. Para isso, eles defendem que os investimentos devem ser feito aos poucos, com valores baixos, que estejam dentro da realidade de cada um, e com constância, “um pouquinho por mês”.
Quando os primeiros retornos começarem a cair na conta — ou seja, quando os primeiros dividendos forem pagos — a ideia é que o investidor reinvista esse valor em mais ações, com a mesma lógica, visando aumentar o patrimônio investido, o montante que cai de dividendo todo mês e a renda mensal futura, na aposentadoria.
‘É quase que algo viciante’, diz Felipe Ruiz sobre investir em ações
A tabela abaixo simula como se daria o crescimento do patrimônio ao longo de 35 anos por meio de investimentos em dividendos, de forma que o investidor consiga usufruir de uma renda mensal maior na aposentadoria.
A simulação, feita pelo AGF, considera que:
caso a moeda brasileira fosse a mesma há 35 anos, a contribuição mensal para o INSS para garantir uma aposentadoria com valor semelhante ao teto que era pago em 2023 precisaria ser de R$ 170,13;
o valor de contribuição mensal para o INSS foi corrigido, anualmente, em uma inflação média de 5%;
em 35 anos, com esses valores, o contribuinte conseguiria uma renda mensal de R$ 7.507,30 na aposentadoria;
os aportes mensais numa carteira de ações previdenciária são do mesmo valor que o contribuinte paga ao INSS;
a rentabilidade da carteira previdenciária foi considerada em 10% ao ano.
Na simulação, além dos aportes mensais no mesmo valor da contribuição para a previdência pública, a partir do segundo ano também entra na conta o reinvestimento dos dividendos que são recebidos.
Dessa forma, o patrimônio acumulado com os investimentos em 35 anos seria de quase R$ 2,8 milhões, enquanto a renda mensal, quando o investidor parar de trabalhar e quiser usufruir do dinheiro que investiu ao longo do tempo, seria de cerca de R$ 22 mil. Neste estudo a renda mensal com uma carteira previdenciária seria 2,9 vezes maior que o recebido pelo teto do INSS.
Como escolher as ações certas para a aposentadoria
Louise Barsi explica sobre a estratégia que adota para escolher suas ações
Louise explica que, para escolher as empresas corretas para ter uma boa carteira previdenciária, é necessário analisar as ações sob duas vertentes: a qualitativa e a quantitativa.
“Empresas que pertencem a alguns setores que geralmente têm algumas características fundamentais se enquadram nessa estratégia que a gente usa de longo prazo, são as ‘BESTS’: banco, energia, seguro, saneamento e telecomunicação”, diz a economista.
“Quais características empresas desses setores têm em comum? Primeiro que as receitas dessas empresas são corrigidas por IPCA e IGPM (inflação). Então, você não escolhe a bandeira tarifária de energia e você não escolhe quanto você vai pagar de água. Vai depender do seu consumo e ai de você se você não pagar esse boleto no final do mês, né? Você fica sem energia, fica sem água, o que é um serviço essencial para a economia. Então, essa é a essencialidade, traz uma previsibilidade a longo prazo”, afirma Louise.
A economista ainda destaca que essas empresas, assim como quaisquer outras, também estão suscetíveis a riscos e ciclos econômicos, mas muito menos que outros setores, como commodities e varejo, por exemplo. “São empresas de setores perenes”.
“Tudo isso traz como consequência um histórico de resultados mais estável e uma previsibilidade de fluxo de caixa. Então, são empresas de margens maiores que conseguem reinvestir em si mesmas”, comenta Louise, sobre a expectativa de pagamento de dividendos por essas companhias.
Além dessas características, Louise também pontua que é importante olhar para as empresas que são bem administradas e com bons históricos, sem fraudes e boas resoluções de períodos de crise.
Tudo isso pode ser aprendido pelo investidor com análises, o estudo da educação financeiro e acompanhamento do noticiário corporativo. E justamente por ser um processo de aprendizagem que os especialistas defendem que os investimentos comecem com pouco dinheiro, somente aquilo que não fará falta.
Já pelo lado quantitativo, a economista ressalta que o investidor precisa analisar os preços pelos quais as ações estão sendo vendidas antes de comprar um papel, porque uma boa estratégia também envolve não comprar num pico de alta, quando estarão muito caras.
Louise Barsi: ‘Quem investe em bolsa tem que se enxergar como um empreendedor’
Antes de todo esse investimento na carteira previdenciária, no entanto, Louise comenta que é necessário que o investidor tenha uma reserva de emergência e o dinheiro para seus objetivos de curto e médio prazo, para que a vida financeira esteja organizada e o que for investido para a aposentadoria possa permanecer alocado até essa fase chegar.
“Você ter uma reserva de emergência é o primeiro passo para você investir na renda variável, porque inevitavelmente, se você colocar recursos do curto prazo em um ambiente que é focado para o longo prazo, você vai ter a volatilidade no curto prazo em se você precisar pagar um boleto no final do mês, você não tem a garantia que a ação que você pagou R$ 10 vai estar R$12 no final do mês, ela pode estar R$ 8 e você vende no prejuízo.”
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Fonte da Máteria: g1.globo.com