O ministro da Fazenda se referia ao PL que equipara o aborto ao homicídio. Na quinta, ele afirmou que vai priorizar a revisão dos gastos públicos, após sofrer derrota no Congresso para tentar aumentar a arrecadação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (15) que o Brasil é uma “encrenca” e disse que, quando vai a Brasília, “não dialoga com o servidor público propriamente dito”, mas vai lá para “se defender do que está acontecendo”.
As afirmações foram feitas durante participação do ministro no evento Despertar Empreendedor, promovido pelo Instituto Conhecimento Liberta.
“Quando a gente vai para Brasília, a gente não dialoga com o servidor público propriamente dito, a gente vai lá para se defender do que está acontecendo”, afirmou o ministro.
“A todo momento você fica apreensivo. Que lei vamos aprovar? O que nós vamos fazer? Que maluquice é essa? Do que estão falando? Por que não se dedicam a coisas sérias, que vão mudar a vida das pessoas? Para que essa espuma toda? Para criar cizânia na sociedade, briga na família?”, disse no evento, em referência ao projeto recentemente votado na Câmara dos Deputados que equipara o aborto ao crime de homicídio.
As falas de Haddad vieram em resposta à pergunta feita pelo mediador da palestra sobre o papel do ministro como servidor público.
Ministro da Fazenda Fernando Haddad, durante evento em abril sobre empreendedorismo.
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
As afirmações de Haddad também vêm após uma semana dura para o governo federal – e em especial para o próprio ministro.
Conforme informado pelo blog da Andreia Sadi, Haddad tem recebido pressão de setores do PT (Partido dos Trabalhadores) e sido questionado pelo mercado financeiro sobre sua capacidade de concretizar a agenda econômica e alcançar o equilíbrio fiscal.
Na última semana, por exemplo, o ministro chegou a afirmar que a equipe econômica vai intensificar a agenda de trabalho em relação aos gastos públicos e que deve focar na revisão de despesas ao longo das próximas semanas.
As declarações vieram após uma forte reação negativa dos mercados a falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando reiterou que não consegue discutir economia sem “colocar a questão social na ordem do dia”.
Além disso, no começo da semana, a notícia de que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) havia decidido devolver ao presidente Lula os trechos da Medida Provisória do PIS-Cofins que restringiram a compensação de créditos do tributo, também colaborou para a percepção de “fritura” do ministro da Fazenda.
A decisão de Pacheco foi vista como uma derrota para o governo, uma vez que Haddad já havia sinalizado que buscava, com a MP, cobrir perdas de arrecadação com a manutenção da desoneração da folha de pagamento. A estimativa é que a medida gerasse um aumento de R$ 29 bilhões na arrecadação deste ano.
Nesse cenário, o presidente Lula voltou a defender o ministro. Neste sábado, ao final da viagem que fez à Suíça e à Itália para encontros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do G7, grupo que reúne nações democráticas mais ricas do mundo, Lula afirmou que, enquanto estiver no cargo, Haddad “jamais ficará enfraquecido”.
“O Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for o presidente da República porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim”, disse.
‘Negócio difícil de administrar’
Durante o evento, o ministro da Fazenda também chegou a fazer críticas a pessoas “em condição de poder que nem sempre estão fazendo a coisa certa pelo país” e disse que o Brasil é “uma encrenca”, apesar de seu potencial.
“O Brasil é uma encrenca, né? Um negócio difícil de administrar”, disse o ministro.
“Temos um país de ouro, um povo de ouro e você vê que quem pode fazer a diferença, nem sempre está pensando no interesse público. E devia estar, né, porque está em posição de poder, porque é um grande empresário ou um político com mandato”, acrescentou Haddad.
Os acontecimentos dos últimos dias também se refletiram no mercado financeiro. O dólar, por exemplo, chegou a bater os R$ 5,42 na última semana, tendo acumulado ganhos de 2,53% no mês e de 10,91% ao ano, ao final da sessão de sexta-feira (14).
Já o Ibovespa, por sua vez, teve alta no último pregão, mas ainda acumula perdas de 1,99% em junho e de 10,82% em 2024.
Fonte da Máteria: g1.globo.com