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Mercado deixa de prever novos cortes de juros pelo Banco Central neste ano, diz boletim 'Focus'


Expectativa de inflação dos economistas dos bancos subiu para os anos de 2024 e de 2025. Números foram divulgados pelo Banco Central. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em foto de 4 de junho de 2024
Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda
Os economistas do mercado financeiro deixaram de estimar um corte na taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana.
Com isso, a projeção é de que a taxa Selic permaneça até o fim de 2024 no atual patamar de 10,50% ao ano.
Até então, as instituições financeiras projetavam uma redução de 0,25 ponto percentual no juro básico, para 10,25% ao ano — estimativa que foi abandonada.
A maioria dos bancos ouvidos na pesquisa conduzida pela autoridade monetária também deixou de estimar corte nos juros no restante deste ano.
A projeção é que a taxa fique estável em 10,50% ao ano até o fim de 2024.
As informações constam do relatório “Focus”, divulgado nesta segunda-feira (17) pelo Banco Central. O levantamento ouviu mais de 100 instituições financeiras, na semana passada, sobre as projeções para a economia.
Para o fim de 2025, por sua vez, o mercado financeiro elevou sua expectativa de 9,25% para 9,50% ao ano.
A projeção de que a taxa de juros não cairia mais nesta semana já havia sido divulgada pelos maiores bancos privados do país na semana passada.
A próxima reunião do Copom, que define o nível da taxa Selic, está marcada para esta semana. A decisão será anunciada na quarta-feira (19), após as 18h.
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, que influencia outros índices de juros no país, como taxas de empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras. A definição da Selic é o principal instrumento de política monetária usado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação.
Evolução das projeções em 2024
As projeções para a taxa básica de juros da economia foram piorando no decorrer do ano de 2024. Em janeiro, a estimativa do mercado era de que a taxa terminaria o ano em 9% ao ano — valor que foi subindo com o passar dos meses.
As projeções foram aumentando conforme foi piorando a percepção dos analistas para a inflação. Veja eventos dos últimos meses:
Em meados de abril, o governo federal propôs reduzir as metas de superávit primário para as contas públicas dos próximos anos. Se confirmadas pelo Legislativo, as novas metas possibilitarão um aumento de despesas de cerca de R$ 160 bilhões em 2025 e 2026. Mais gastos, por sua vez, tendem a pressionar a inflação;
As enchentes no Rio Grande do Sul também estão afetaram as estimativas de inflação, pois alguns itens de alimentação com origem no estado, como arroz por exemplo, tendem a ter aumento de preços. O próprio Ministério da Fazenda já elevou sua estimativa de inflação por conta disso, assim como os agentes do mercado estão fazendo;
Houve um “racha” na diretoria do BC na última reunião do Copom, quando aconteceu uma diminuição no ritmo de corte dos juros – fixando a Selic em 10,50% ao ano. O temor do mercado é que a diretoria do BC indicada pelo presidente Lula – com maioria no Copom a partir de 2026 –, possa ser mais leniente com a inflação, em busca de um ritmo maior de crescimento da economia.
Além da expectativa de pressões inflacionárias maiores no Brasil, também contribui para uma política de juros mais conservadora no país, segundo analistas, a demora do BC norte-americano (o Federal Reserve) de iniciar as reduções nos Estados Unidos – o que diminui o espaço para cortes no Brasil.
E o dólar subiu muito nas últimas semanas, atingindo, na sexta-feira (11), R$ 5,36. Dólar alto, por sua vez, tende a pressionar a inflação no Brasil pois os produtos importados ficam mais caros, e isso normalmente é repassado aos consumidores.
Lula critica juros altos
O patamar elevado da taxa básica de juros da economia brasileira, em comparação com outros países, tem sido criticado recorrentemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos reféns de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa brasileira. Ninguém fala da taxa de juros de 10,25% em um país com uma inflação de 4%. Pelo contrário, dão uma festa para o presidente do Banco Central. Quem deu a festa deve estar ganhando com esses juros”, disse Lula neste sábado (15), por meio de rede social.
O BC tem de autonomia em sua atuação, sendo que o atual presidente, Roberto Campos Neto, foi indicado por Jair Bolsonaro (PL).
A instituição diz que seu papel, na fixação da taxa de juros, é técnico, e busca conter a inflação.
Em seus documentos, o BC informa que um patamar mais alto de inflação prejudica, principalmente, a população de baixa renda.
Nesta semana, o Banco Central informou que o lucro líquido dos bancos subiu para R$ 144,2 bilhões em 2023, e bateu novo recorde histórico.
Projeções do mercado para inflação
Para a inflação oficial do país neste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os analistas dos bancos elevaram a expectativa de inflação de 3,90% para 3,96%. Esse foi o sexto aumento seguido no indicador.
Com isso, a expectativa dos analistas para a inflação de 2024 se mantém acima da meta central de inflação, mas abaixo do teto definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano.
Para 2025, a estimativa de inflação avançou de 3,78% para 3,80% na última semana. No próximo ano, a meta de inflação é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, o BC já está mirando, neste momento, na meta do ano que vem, e também em 12 meses até meados de 2025.
Quanto maior a inflação, menor é o poder de compra das pessoas, principalmente das que recebem salários menores. Isso porque os preços dos produtos aumentam, sem que o salário acompanhe esse crescimento.
Produto Interno Bruto
Para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, a expectativa do mercado caiu de 2,09% para 2,08% na semana passada.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia.
O crescimento na projeção dos analistas foi registrada após a divulgação do resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano — que teve alta de 0,8%.
Já para 2025, a previsão de alta do PIB do mercado financeiro continuou em 2%.
Outras estimativas
Veja abaixo outras estimativas do mercado financeiro, segundo o BC:
Dólar: a projeção para a taxa de câmbio para o fim de 2024 subiu de R$ 5,05 para R$ 5,13. Para o fim de 2025, a estimativa avançou de R$ 5,09 para R$ 5,10.
Balança comercial: para o saldo da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações), a projeção recuou de US$ 82,5 bilhões para US$ 82 bilhões de superávit em 2024. Para 2025, a expectativa para o saldo positivo caiu de US$ 78 bilhões para US$ 76,3 bilhões.
Investimento estrangeiro: a previsão do relatório para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil neste ano continuou em US$ 70 bilhões de ingresso. Para 2025, a estimativa de ingresso avançou de US$ 72,5 bilhões para US$ 73 bilhões.

Fonte da Máteria: g1.globo.com