Uma prática que remonta à Dinastia Tang, que governou de 618 a 907 d.C., a diplomacia dos pandas – ou o envio de pandas como presentes diplomáticos – parece estar em jogo mais uma vez em 2024. A China está renovando a sua diplomacia dos pandas?
Getty Images via BBC
A diplomacia dos pandas está de volta aos holofotes.
No fim de maio, foi anunciado que um casal de pandas será enviado ao Zoológico Nacional, em Washington.
O jornal “Folha de São Paulo” também noticiou que o governo chinês ofereceu dois pandas ao Brasil, possivelmente para o zoológico de São Paulo, para comemorar os 50 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre o governo brasileiro e a China comunista.
Mas, afinal, o que significa a diplomacia dos pandas e por que pode ser tão importante?
Apenas dois meses depois de o presidente dos EUA, Richard Nixon, ter feito a sua viagem histórica à China em 1972, pondo fim a mais de duas décadas de tensão entre os dois países, um par de pandas de 18 meses chegou aos Estados Unidos como presente. Enviados pelo primeiro-ministro Zhou Enlai, representaram o mais recente uso da diplomacia dos pandas na China.
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Uma prática que remonta à dinastia Tang, que governou de 618 a 907 d.C., a diplomacia dos pandas – ou o envio de pandas como presentes diplomáticos – parece estar em jogo mais uma vez em 2024.
Na semana passada, a Associação de Conservação da Vida Selvagem da China anunciou que finalizou acordos para emprestar alguns dos adoráveis pandas gigantes da China a zoológicos na Espanha e nos Estados Unidos, de acordo com a Agência de Notícias Xinhua, a organização oficial de notícias da China.
“Instituições chinesas relevantes assinaram acordos com o Zoológico de Madrid, na Espanha, e o Zoológico de San Diego, nos Estados Unidos, sobre uma nova rodada de cooperação internacional na proteção de pandas gigantes”, disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, durante coletiva de imprensa, de acordo com a Reuters.
A notícia surge após a China recolher três pandas gigantes no Zoológico Nacional em Washington D.C. no ano passado e um outro que vivia no Zoológico de Memphis, no Tennessee – movimentos que deixaram apenas quatro pandas nos Estados Unidos (todos no zoológico de Atlanta, na Geórgia).
Na mesma linha, dois pandas gigantes que viviam desde 2011 no Reino Unido, no Zoológico de Edimburgo, foram recolhidos em 2023.
Essas decisões ocorreram em um momento em que as relações entre Pequim e o Ocidente estavam em um terreno difícil.
A China e os EUA, por exemplo, enfrentavam alguns desafios de segurança, humanitários e econômicos particularmente tensos, de acordo com um artigo sobre diplomacia animal de Barbara K. Bodine, da Universidade de Georgetown, ilustre professora de diplomacia e diretora do Instituto para o Estudo da Diplomacia de Georgetown.
A renovada agitação da diplomacia panda pode ser parte da busca da China pelo “softpower” (o seu poder brando), explica Susan Brownell, professora do departamento de história da Universidade de Missouri e membro do Comitê Nacional de Relações EUA-China, que trabalha para promover a compreensão e a cooperação entre os dois países.
Com os diplomatas panda fazendo as malas, um novo capítulo de diplomacia fofinha pode estar começando.
A história da diplomacia panda
Diplomacia dos pandas remonta à dinastia Tang.
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Embora a chegada de Hsing-Hsin e Ling-Ling aos Estados Unidos em 1972 durante a administração Nixon esteja entre os exemplos mais conhecidos da diplomacia panda, certamente não é o primeiro caso do tipo.
Em 1941, dois pandas foram enviados aos Estados Unidos pouco antes de o país entrar na Segunda Guerra Mundial – eles foram amplamente vistos como um presente de “agradecimento” da China.
Durante a cerimônia de anúncio do presente, Chiang Kai-shek disse que os pandas eram uma forma de agradecer “aos amigos americanos da China por aliviarem o sofrimento do nosso povo e curarem as nossas feridas”.
Mais tarde, durante a década de 1950, o presidente Mao era conhecido por enviar pandas como presentes aos aliados comunistas do país, que incluíam a Coreia do Norte e a União Soviética.
Mais recentemente, após o desaparecimento do voo 370 da Malaysian Airlines em Março de 2014, que prejudicou as relações entre a China e a Malásia, a chegada de dois dos adorados pandas da China naquele mesmo ano à Malásia foi vista como uma oferta de paz.
Quanto ao que os pandas podem significar hoje, Brownell sugere um esforço por parte da China para emular o que os distingue dos Estados Unidos no cenário mundial. “Eles sabem muito bem que a sua crescente força econômica e militar é vista como uma ameaça, particularmente pela liderança política dos EUA”, explicou Brownell.
“Eles também entendem que um grande fator [da influência dos EUA] no mundo vem do apelo de seus produtos culturais, sejam filmes de Hollywood ou estrelas da NBA”.
“O uso dos adoráveis pandas, bem como a promoção estatal dos esportes olímpicos, faz parte do esforço (da China) para desenvolver esse tipo de apelo e influência no mundo”, acrescentou Brownell.
San Diego se prepara para novos pandas
Deixando de lado as implicações políticas e diplomáticas, o Zoológico de San Diego está se preparando ansiosamente para a chegada de um novo conjunto de pandas gigantes.
O habitat que abrigou os últimos pandas, que foram devolvidos à China em 2019 depois de mais de 20 anos no zoológico, está sendo preparado e renovado para a grande chegada.
“Estamos dobrando o tamanho do habitat original e renovando outro habitat próximo e eles se conectarão”, disse Greg Vicino, vice-presidente de cuidados com a vida selvagem do Zoológico de San Diego.
A última vez que o zoológico acolheu pandas da China foi em um programa bem-sucedido – tanto em termos dos esforços de conservação dos pandas como das relações que foram construídas com colegas chineses.
O zoológico foi o lar de pandas gigantes de 1996 até sua partida em 2019 e durante esse período nasceram um total de seis pandas. Bai Yun e Shi Shi deram à luz o primeiro filhote de panda a sobreviver em cativeiro nos Estados Unidos e, mais tarde, Bi Yung e Gao Gao deram à luz mais cinco filhotes.
Houve também um conjunto substancial de pesquisas publicadas e uma conexão genuína construída entre conservacionistas em San Diego e na China.
“Havia um fluxo constante [entre San Diego e a China] de pesquisadores, cientistas e estudantes de pós-graduação vindo e indo para cá”, disse Vicino. “Essa colaboração – quando você olha a lista de publicações resultantes disso – é impressionante. Foi uma grande vitória para a conservação.”
E, em última análise, diz Vicino, a conservação se resume a relacionamentos. “Posso dizer por experiência própria, tendo trabalhado nessa área há mais de 20 anos, que ingenuamente pensei que a conservação era uma questão de salvar habitats e espécies. Mas descobri imediatamente que se tratava de formar relacionamentos.”
Ele brinca que a diplomacia é algo que “deixará para os profissionais” e acrescenta: “Trata-se realmente de um contato individual entre verdadeiros conservacionistas de diferentes países”.
Embora ainda não esteja claro quando exatamente os novos pandas chegarão a San Diego, há quem diga que o zoológico poderá receber descendentes de seus residentes anteriores, Bi Yung e Gao Gao.
Se for esse o caso, Vicino diz que seria uma forma adequada para San Diego continuar os seus esforços de conservação dessa espécie.
“Seria realmente ótimo para nós podermos fechar o círculo nesse legado”, afirmou Vicino.
Fonte da Máteria: g1.globo.com