Comitê de política monetária (Copom) decidiu, unanimemente, por manter a Selic inalterada em 10,5% nesta quarta-feira (19). Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante debate no Senado
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Após sete reduções seguidas na taxa básica de juros brasileira, a Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu fazer uma pausa no ciclo de cortes de juros nesta quarta-feira (19).
Com isso, o colegiado manteve os juros básicos do país inalterados no patamar de 10,50% ao ano (a.a.).
A decisão veio em linha com as atuais expectativas do mercado, mas ainda representa uma previsão maior de juros para 2024 em relação ao observado no começo do ano.
Em janeiro, por exemplo, a previsão era que a Selic terminaria 2024 em 9% (a.a.). Agora, a maior parte do mercado espera que a taxa básica permaneça no atual patamar de 10,50% (a.a.) até o final do ano – e que novos cortes aconteçam somente em 2025.
Com a manutenção dos juros já precificada entre os analistas, as atenções ficaram voltadas para o comunicado divulgado após a decisão do Copom e pela divisão dos votos entre os diretores – tema que gerou polêmica na última reunião, quando houve uma racha entre a diretoria e sucessores. No encontro desta quarta-feira, todos os diretores votaram pela manutenção das taxas.
Entenda nesta reportagem por que o Banco Central decidiu interromper o ciclo de cortes de juros e quais os sinais da instituição para o futuro da Selic.
Por que o BC decidiu interromper o ciclo de cortes de juros?
Segundo economistas consultados pelo g1, o principal motivo para a pausa nos cortes da Selic foi a maior desancoragem das expectativas de inflação.
“A desancoragem que já existia na semana passada aumentou. E não aumentou pouca coisa, aumentou muito”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, reiterando que as últimas sinalizações dos diretores do Copom também indicam esse como o principal fator para a tomada de decisão.
Segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira após a decisão, o colegiado afirmou que o ambiente externo se mantém adverso, “em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países.”
Os diretores também afirmaram que o conjunto de indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho brasileiro continuam apresentando um “dinamismo maior do que o esperado”.
Entre os fatores de risco de alta de inflação citados pelo Copom no comunicado divulgado após a decisão, estão:
uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e
uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.
Já entre os riscos de baixa estão:
uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, disse o colegiado no comunicado.
Piora do cenário doméstico e internacional
Política monetária internacional
Do lado do exterior, dizem especialistas, o ambiente mais adverso em meio às crescentes incertezas sobre a política monetária internacional – principalmente nos Estados Unidos – continuou na mira do BC.
Em sua última reunião de política monetária, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu mais uma vez manter os juros do país inalterados na faixa entre 5,25%, e 5,50%, destacando que não considera dar início aos cortes de juros até que tenha “maior confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável para 2%”.
Além disso, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) ainda voltou a dizer que está “preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos.”
Segundo o economista-chefe da Ágora Investimentos, Dalton Gardimam, havia um diagnóstico muito otimista por parte do Fed no ano passado que mudou ao longo desse ano, em meio aos dados ainda fortes da economia norte-americana.
“Se no começo do ano o mercado esperava sete cortes de 0,25 p.p. pelo Fed, agora a estimativa é que ele só reduza as taxas em dezembro ou um ou dois meses antes. Só isso já justificaria o mundo virar de cabeça para baixo”, afirmou.
Deterioração do ambiente fiscal
Outro fator importante na decisão do BC foi a deterioração do ambiente fiscal brasileiro. Entre os pontos citados pelos especialistas estão:
A mudança da meta fiscal para 2025;
A troca da presidência da Petrobras; e
Dúvidas sobre a capacidade do governo em alcançar o equilíbrio fiscal.
“Não houve, necessariamente, uma terrível piora nos números fiscais deste ano. Então não é necessariamente uma deterioração fiscal do país, mas uma piora do ambiente fiscal, no qual se adicionou muita incerteza à frente”, disse Gardimam.
Em abril desse ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma mudança na projeção fiscal do Brasil. A nova previsão passou a ser de déficit zero para 2025 — e não mais de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), como previsto até o ano passado.
Na leitura do mercado, a mudança na meta significa abrir mais espaço para gastos – mesmo em um cenário de dificuldade do governo em aumentar as receitas e apenas no segundo ano de existência do novo arcabouço fiscal.
Além disso, a “fritura” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após derrotas recentes do governo com o Congresso, também tem pesado no mercado financeiro, que continua a questionar a capacidade do ministro de concretizar a agenda econômica e alcançar o equilíbrio fiscal necessário no país.
“Foi uma mudança na meta e, sobretudo, o questionamento de uma estratégia [de aumento de impostos]. Não dá pra passar muito tempo com uma estratégia fiscal baseada exclusivamente em aumento de imposto. Há um limite”, afirmou o economista da Ágora, sinalizando a necessidade de corte de gastos por parte do governo.
DEBATE: O TAMANHO DO RISCO FISCAL
E quais foram os recados do BC para o futuro da Selic?
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o Copom afirmou que a conjuntura atual já sinaliza um processo desinflacionário mais lento e indica “ampliação da desancoragem das expectativas de inflação” em meio a um cenário global desafiador.
Esse cenário, de acordo com o colegiado, “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária” por parte da instituição.
Ainda no comunicado, o Copom também ressaltou que decidiu, com unanimidade, interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela.
“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, afirmaram os diretores.
O Comitê ainda reforçou que se manterá vigilante e relembrou que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Fonte da Máteria: g1.globo.com