Artista lança ‘Seres humanos’, álbum autoral com repertório inédito e com algumas vozes e instrumentos gerados por inteligência artificial. Odair José apresenta 13 inéditas canções autorais no álbum ‘Seres humanos (e a inteligência artificial)’, lançado pela gravadora Monstro Discos
Bernardo Guerreiro / Divulgação
Capa do álbum ‘Seres humanos (e a inteligência artificial)’, de Odair José
Arte de Roger Marx
Resenha de álbum
Título: Seres humanos (e a inteligência artificial)
Artista: Odair José
Edição: Monstro Discos
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ Na primeira metade da década de 1970, Odair José deixou de ser mais um na multidão de cantores aspirantes ao estrelato por versar de forma simples e direta sobre temas como amor, sexo, prostituição, religião e preconceito social.
O cantor e compositor goiano marcou posição com canções de fácil comunicação com as classes mais populares do Brasil. Era visto preconceituosamente pelas elites culturais como um dos símbolos mais fortes da cafonice musical brasileira dos anos 1970, década da hegemonia da MPB.
A dois meses de completar 76 anos, a serem festejados em 16 de agosto, Odair José – já sem precisar provar nada a ninguém – continua em atividade e tem procurado se manter em sintonia com os tempos e os temas atuais.
Em rotação desde sexta-feira, 21 de junho, com capa que expõe arte de Roger Marx, o 39º álbum do artista, Seres humanos (e a inteligência artificial), se afina com o tom do antecessor Hibernar na casa das moças ouvindo rádio (2019), lançado há cinco anos com produção musical do mesmo Junior Freitas, multi-instrumentista paulistano que toca com o cantor desde 2012 e que deu forma ao disco atual.
Lançado em 22 de março, o single DNA já tinha sinalizado essa similaridade na forma de blues-rock de versos ácidos. A diferença é que o disco Seres humanos chega ao mundo com menor dose de rock e com vozes e timbres obtidos através de recursos de inteligência artificial.
É produto de IA a voz feminina que narra as falas da sintética música-título Seres humanos na abertura do álbum. Também é artificial o canto de “Nádia” em dueto com Odair na boa canção country No ponto, composta por Odair com Bárbara Eugênia e alocada como faixa-bônus ao fim do disco porque a música foi feita fora do processo de criação do álbum.
Também vieram da IA os pianos ouvidos no country-rock Repetições e na balada Submisso, assim com o Fender Rhodes que adorna o rock O sono. Sem falar que a masterização do álbum também é creditada à inteligência artificial.
A rigor, esses recursos pouco importam no conjunto da obra porque a principal matéria-prima do álbum Seres humanos é a inteligência natural de Odair José, que discorre em A roupa sobre a noção de pecado associado ao corpo nu do ser humano.
Em Desejo, inspirada balada de alma soul, o tema é a liberdade sexual através do exercício das fantasias e de uma sugerida homossexualidade, abordada em letra escrita na primeira pessoa.
“Ao abrir essa porta / Eu me libertei / Hipocrisia está morta / Eu mesmo matei / De um jeito plural / O amor sobrevive / Num efeito carnal / Eu agora estou livre”, celebra Odair no refrão da canção. Liberdade também é o tema de Bipolar, canção adornada com cordas sintéticas e com bateria tocada por IA.
A rigor, nenhuma música do álbum Seres humanos (e a inteligência artificial) tem força no mercado atual para se tornar um clássico do cancioneiro de Odair José, mas a safra autoral do compositor inclui algumas boas canções.
De todo modo, é louvável a iniciativa de Odair José de se atualizar e de ampliar a discografia com álbuns de repertório inédito, em vez de ficar cantando e gravando sempre as mesmas músicas. O tempo de Odair José é hoje.
Fonte da Máteria: g1.globo.com