Pressão começou após desempenho ruim de Biden no debate contra Trump. Eleições acontecem em 5 de novembro. A candidatura de Biden passou a ser contestada após o desempenho ruim no primeiro debate contra Trump, no fim de junho
Nathan Howard/Reuters
Antes líder incontestável nas primárias do Partido Democrata , Joe Biden enfrenta um calvário desde o debate de 27 de junho.
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O presidente dos EUA sofre pressão para entregar sua candidatura a um novo mandato à Presidência dos EUA desde o debate, quando apresentou um desempenho considerado péssimo por analistas no primeiro debate contra o candidato republicano, Donald Trump.
Nesta sexta (5), Biden reafirmou a intenção de se candidatar e disse que estava “exausto” e “doente” no debate.
Na média das pesquisas eleitorais, Biden tem 39,6%, contra 42,2% de Trump, segundo o site americano 538. As eleições acontecem em 5 de novembro.
A derrocada de Biden é ainda mais impressionante quando se considera a tranquilidade com a qual ele havia conseguido o número suficiente de delegados do Partido Democrata para garantir sua candidatura — a ser referendada na convenção partidária de agosto.
Nas eleições presidenciais dos EUA, é comum que os partidos referendem o presidente em exercício a concorrer a um segundo mandato. Porém, dúvidas em relação à idade de Biden, que já têm 81 anos, haviam sido levantadas entre os democratas. No fim, ele superou com folga seus concorrentes Dean Phillips, Jason Palmer e Marianne Williamson. Caso mantenha a candidatura e seja eleito, ele terminaria o mandato com 86 anos.
Desde março, quando Trump se tornou o candidato escolhido pelos republicanos, acreditava-se que a disputa por votos nas eleições de novembro seria acirrada, reeditando o pleito de 2020. Também era sabido que Trump tentaria colar em Biden a pecha de senil.
O foco da campanha do presidente foi, desde o início, garantir aos eleitores que ele ainda é fisicamente e mentalmente capaz de trabalhar no cargo mais importante do mundo. Uma outra preocupação era reconectar o candidato com sua base mais jovem, perdida especialmente após o apoio à campanha de Israel em Gaza.
Presidente Biden diz que o debate foi um episódio ruim em entrevista à ‘ABC’
Debate
A intenção de mostrar um Joe Biden “aceso” fracassou logo no primeiro debate da corrida eleitoral, no último dia 27. A performance do atual presidente foi considerada “desastrosa” apesar de o democrata ter se fechado em Camp David dias antes com seus principais assessores para se preparar para o debate.
Joe Biden durante debate presidencial, nos Estados Unidos, em 27 de junho de 2024
REUTERS/Brian Snyder
Em diversos momentos, Biden manteve o olhar parado e o maxilar aberto, alé de apresentar a voz rouca —atribuída a um resfriado—, pouco entusiasmo e episódios de hesitação. O debate foi marcado também pela troca de acusação entre os candidatos e mentiras contadas por Trump, que ficaram em segundo plano para os analistas políticos.
No dia seguinte, Biden admitiu o desempenho ruim e se defendeu das críticas de que não tem capacidade para governar mais um mandato.
“Não ando com tanta facilidade como antes, não falo com tanta fluidez como antes, não debato tão bem como antes, mas sei o que sei: sei dizer a verdade”, disse o presidente.
Pressão por desistência
O tom defensivo não foi capaz de aplacar a dúvida que se instalou entre correligionários e outros aliados sobre a viabilidade de sua candidatura.
Um dia depois do debate, em um movimento visto como inédito por analistas, editoriais de diversos jornais dos EUA pediram a desistência de Biden.
Revista mostra andador ao pedir que Biden desista de concorrer
Na quarta (3), o “New York Times” disse que Biden expressou a aliados suas dúvidas sobre se deve continuar a disputar a reeleição. No dia seguinte, a revista britânica The Economist estampou na capa a foto de um andador com o selo da presidência dos EUA e diz: “Sem condição de comandar um país”. Biden tem 81 anos e, se reeleito, deixaria o segundo mandato com 86 anos.
Segundo fontes próximas a Biden ouvidas pelo jornal, o presidente tem dúvidas sobre se poderá se reerguer após o desempenho ruim no primeiro debate eleitoral contra o candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump, na semana passada. Biden disse que quase adormeceu durante o enfrentamento (leia mais abaixo).
Esta é a primeira vez que fontes próximas ao candidato democrata revelam dúvidas por parte de Joe Biden sobre seguir ou não com sua candidatura.
Em meio às incertezas, muitos doadores, estrategistas e políticos do partido democrata querem que Biden suspenda sua campanha de reeleição para evitar o que veem como uma derrota certa em novembro. Também há uma crescente sensação de que o partido se colocou em uma situação ruim sem uma solução clara caso Biden virasse dúvida na corrida eleitoral.
Alguns aliados estão reconhecendo os problemas de Biden, mas contrastando suas políticas e histórico com os de Donald Trump, republicano.
O senador progressista Bernie Sanders, que foi rival de Biden pela indicação democrata em 2020, disse à Associated Press que o desempenho de Biden no debate foi “doloroso” e que não está confiante na vitória do presidente. No entanto, ele não quer que Biden desista e pediu aos eleitores que adotem “maturidade” ao considerar suas opções de voto.
De forma privada, pessoas próximas a possíveis substitutos de Biden — incluindo o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e a vice-presidente, Kamala Harris — estão tendo conversas informais sobre os próximos passos, caso Biden mude abruptamente de rumo e desista.
Essas conversas incluem discussões sobre possíveis companheiros de chapa, de acordo com doadores envolvidos nas discussões. Nomes de potenciais candidatos a vice-presidente que surgiram incluem o governador de Kentucky, Andy Beshear, e o deputado Ro Khanna, da Califórnia.
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O deputado Lloyd Doggett, do Texas, tornou-se o primeiro democrata da Câmara dos Deputados a pedir publicamente, nesta terça-feira (2), que o presidente abandone a corrida.
“Reconhecendo que, ao contrário de Trump, o primeiro compromisso do presidente Biden sempre foi com nosso país, não com ele mesmo, espero que ele tome a difícil e dolorosa decisão de se retirar. Ele tem a oportunidade de encorajar uma nova geração de líderes dos quais um candidato pode ser escolhido para unir nosso país por meio de um processo democrático aberto”, disse Doggett em comunicado.
A ex-presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi –também democrata– disse à rede americana “MSNBC” na terça que acredita ser “uma questão legítima” o questionamento de se o desempenho vacilante de Biden é apenas “um episódio ou uma condição.”
“Quando as pessoas fazem essa pergunta, é legítima — para ambos os candidatos”, disse Pelosi.
Pelosi disse que não falou com Biden desde o debate, mas enfatizou que o presidente está “no auge de suas capacidades, em termos de conhecimento das questões e do que está em jogo.”
Até a fala de Lloyd Doggett, os políticos democratas que se manifestaram desde o debate prometeram publicamente apoio a Biden nos últimos dias. E a equipe de Biden minimizou os problemas políticos do presidente em uma série de memorandos e reuniões privadas com doadores, estrategistas e integrantes do partido.
“Os eleitores estão impotentes”, disse Nina Turner, co-presidente nacional da campanha presidencial de Sanders em 2020, que agora teme que o Partido Democrata não possa vencer novamente com Biden como candidato. “A decisão recai exclusivamente sobre ele [Biden]”, completou.
Donald Trump e Joe Biden em debate presidencial, em 27 de junho de 2024
Gerald Herbert/AP
Democratas x democratas
Em meio à frustração diante da incerteza, grupos-chave na coalizão política de Biden — que já mostravam sinais de desgaste antes do debate — começaram a se voltar uns contra os outros.
Tim Miller, um apoiador de Biden que já trabalhou em campanhas políticas republicanas, tem sido atacado nos últimos dias por ativistas pró-Biden nas redes sociais por ter levantado preocupações sobre as perspectivas de Biden na eleição geral. Em uma entrevista, no entanto, Miller disse que os democratas eleitos lhe dizem em particular que compartilham suas preocupações.
“Para mim, o único risco agora é todo mundo calar a boca e se alinhar. Este é o momento certo para ter uma conversa aberta sobre qual é o caminho a seguir. Caso contrário, estamos em uma trajetória para outra presidência de Donald Trump”, disse Miller.
Sem plano B
Ao mesmo tempo que pesquisas de opinião dos eleitores democratas indiquem receio em relação ao Biden, o presidente do Comitê Nacional Democrata, Jaime Harrison, deixou claro na terça-feira (2) que as regras do partido não deixam espaço para um Plano B.
“As primárias acabaram, e em todos os estados a vontade dos eleitores democratas foi clara: Joe Biden será o candidato do Partido Democrata à presidência. Os delegados estão comprometidos a refletir o sentimento dos eleitores, e mais de 99% dos delegados já estão comprometidos com Joe Biden em direção à nossa convenção”, disse Harrison à Associated Press.
Biden garantiu quase todos os delegados democratas nas primárias do partido e consolidou o número necessário de delegados para a indicação do partido na Superterça, em março. Eles estão comprometidos pelas regras do partido a “usarem a boa fé” para refletir os desejos dos eleitores que escolheram Biden. Uma votação virtual para formalizar o status de Biden como candidato é esperada semanas antes da Convenção Democrata Nacional, marcada para os dias 19 a 22 de agosto.
Apoio do eleitor
A campanha de Biden emitiu um memorando no fim de semana alegando que ele havia perdido pouco apoio após o debate. Um memorando interno separado também argumentou que ele manteria o apoio de muitos eleitores que tiveram uma reação negativa ao seu desempenho no horário nobre.
Uma pesquisa da rede “CNN” conduzida pela SSRS após o debate revelou que três quartos dos eleitores dos EUA — e mais da metade dos eleitores democratas — dizem que o Partido Democrata teria uma chance melhor de vencer a presidência com outra pessoa na liderança da chapa. Segundo a pesquisa, a avaliação de favorabilidade de Biden não mudou significativamente, nem a parcela de americanos que dizem que votarão nele em novembro.
Uma pesquisa da agência de notícias Reuters com a Ipsos revelou nesta terça (2) que um em cada três democratas acha que Biden deve desistir de eleição e a ex-primeira-dama Michelle Obama seria a única a vencer Donald Trump em um hipotético confronto, entre os nomes levantados para substituir Biden como candidato democrata –Michelle já disse várias vezes que não tem intenção de entrar nessa disputa.
Ao mesmo tempo, a campanha do presidente anunciou na terça-feira (2) uma arrecadação massiva de fundos para o mês de junho. No total, a campanha arrecadou US$ 127 milhões (cerca de R$ 720 milhões) no mês passado, incluindo US$ 33 milhões (cerca de R$ 187 milhões) no dia do debate e logo após, segundo a campanha. Os números não podem ser verificados até que os registros federais sejam publicados no final do mês.
Preocupação democrata
Mas os aliados de Biden em estados-chave em todo o país reconhecem o medo que se espalha pelas fileiras do partido.
A presidente do Partido Democrata da Flórida, Nikki Fried, disse que tem trabalhado para acalmar as preocupações sobre a aptidão mental de Biden compartilhando suas experiências pessoais.
“Estive em reuniões e conversas e interações de perto com o presidente em que pudemos discutir iniciativas políticas importantes, mas também pudemos simplesmente ter uma conversa geral, como se você estivesse conversando com seu vizinho. (…) Nunca houve um momento em que questionei sua capacidade de governar este país e de promover o tipo de energia e coalizão que será necessária para vencer em novembro”, disse Fried.
A presidente do Partido Democrata de Michigan, Lavora Barnes, disse que falou com voluntários na noite de segunda-feira e “sim, eles fizeram perguntas” sobre o desempenho de Biden no debate. Mas “precisamos focar nossas conversas com nossos eleitores no trabalho que o presidente fez em contraste com Donald Trump”, disse ela.
O senador democrata de Vermont Peter Welch admitiu que o desempenho de Biden no debate intensificou as questões sobre a idade do presidente, que estão na mente dos “eleitores do dia a dia” e até mesmo dos “apoiadores extremamente enérgicos de Biden.”
“Dentro da campanha de Biden, eles estão cientes disso. Achei que foi um erro a campanha de Biden criticar as pessoas que começaram a fazer perguntas que a própria campanha está fazendo”, disse Welch em uma entrevista.
Fonte da Máteria: g1.globo.com