Dois meses após morte de escritora canadense, que venceu o Nobel de Literatura em 2013, Andrea Robin Skinner fez o relato em um artigo para o jornal canadense Toronto Star. Alice Munro dá entrevista ao receber prêmio na Irlanda em 2009
Peter Muhly/AFP
Andrea Robin Skinner, filha da nobel de literatura Alice Munro, afirmou que era abusada sexualmente pelo padrasto na infância e que sua mãe sabia.
Em um artigo ao jornal canadense Toronto Star, Andrea conta que demorou cerca de 16 anos para revelar os abusos à mãe. Murno chegou a se separar por um período do marido, Gerald Fremlin, mas alegou que soube “tarde demais” do ocorrido e que “o amava muito” para deixá-lo.
No artigo, publicado dois meses após a morte da escritora canadense, Andrea conta que seu padrasto, Gerald Fremlin, abusou sexualmente dela pela primeira vez quando ela tinha 9 anos e, ele, 50.
Andrea conta que chegou a conversar com o pai, James Munro, mas que ele não falou nada para Alice Munro. Ela ainda cita que os abusos só pararam quando ela era adolescente que, por causa deles, desenvolveu bulimia e sofre com crises de insônia e enxaqueca.
Quando estava com “vinte e poucos anos”, Andrea escreveu para a mãe contando que era abusada desde a infância. “Mas ela reagiu exatamente como temia, como se tivesse descoberto uma traição”, conta Andrea.
Ela conta que, por um tempo, Munro se separou de Fremlin e que o padrasto admitiu os abusos, mas colocou a culpa em Andrea.
Alice Munro seguiu com Gerald Fremlin até a morte dele, em 2013, mesmo ano em que ela foi premiada com o Nobel de Literatura. Alice morreu em maio de 2024, aos 92 anos.
Em 2005, Andrea denunciou o padrasto à polícia, quando ele estava com 80 anos. Fremlin foi acusado de agressão sexual contra Skinner e se declarou culpado. Ele recebeu pena de dois anos de liberdade condicional.
Andrea diz que fez o relato porque “queria que essa história se tornasse parte da história que as pessoas contam sobre minha mãe” e que não queria ver “uma biografia sem mostrar a realidade do que aconteceu com ela e sem o fato de a mãe ter sido confrontada com a realidade do que aconteceu e ter escolhido ficar e proteger meu abusador”.
Quem foi Alice Munro
Alice nasceu em 10 de julho de 1931 em Wingham, no Canadá. Ela é autora de diversos livros de contos, traduzidos para mais de dez idiomas. Entre os numerosos prêmios literários recebidos ao longo de sua carreira, destaca-se o Man Booker Prize, em 2009. Entre suas obras mais conhecidas estão “”O amor de uma boa mulher” (2013), “Fugitiva” (2004) e “Felicidade demais” (2010).
Ela começou a estudar Jornalismo e Inglês na University of Western Ontario, mas interrompeu os estudos quando se casou em 1951. Junto com seu marido, ela se mudou para Victoria, em British Columbia, onde o casal abriu uma livraria. Seu primeiro livro foi publicado em 1968, com o título “Dance of the happy shades”, que recebeu bastante atenção no Canadá.
Em 1971, Munro publicou uma coleção de histórias chamada “Lives of girls and women”, que os críticos descreveram como um “Bildungsroman”, isto é, um romance de formação.
Sua obra “Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento” (2001) foi inspiração para o filme “Longe dela” (2006), dirigido por Sarah Polley. Três de seus contos também inspiraram o filme “Julieta” (2016), de Pedro Almodóvar.
Alice ganhou o Nobel de literatura em 2013. De acordo com o comitê, ela era considerada “mestre da narrativa breve contemporânea” e “aclamada por sua narrativa afinada, que é caracterizada pela clareza e pelo realismo psicológico”.
Alguns críticos a consideram “a Chekhov canadense”, em referência ao escritor russo Anton Chekhov, por seus contos serem centrados nas fraquezas da condição humana.
Fonte da Máteria: g1.globo.com