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Extrema direita alemã obtém 1ª vitória desde a Segunda Guerra em eleição regional, segundo pesquisa de boca de urna


Com votação encerrada, a pesquisa de boca de urna projeta liderança da AfD na Turíngia. Pleito é visto como termômetro para eleição ao governo federal em 2025. Bjoern Hoecke, principal candidato do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Markus Schreiber/AP
O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve uma vitória histórica na eleição regional no estado da Turíngia, estado no leste da Alemanha, neste domingo (1º), segundo pesquisa de boca de urna. Esta é a primeira vitória da ultradireita alemã desde a Segunda Guerra Mundial.
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Na Turíngia, um dos menores estados federados da Alemanha, a Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve uma ampla vitória com cerca de 33,1% dos votos, à frente dos conservadores da CDU (24,3%), segundo as primeiras pesquisas após o fechamento das seções eleitorais.
Na Saxônia, a AfD (30%) por pouco não supera a CDU (31,5%). Já a BSW surge em terceiro lugar com 12%.
As eleições regionais alemãs acontecem em um ambiente especialmente tenso, pouco tempo após um triplo assassinato com faca atribuído a um sírio em Solingen, no oeste do país. O ataque chocou o país e alimentou o debate sobre a imigração.
Tanto na Turíngia quanto na Saxônia, os três partidos que integram a coalizão do governo federal – sociais-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP) – não somam juntos mais que 12,3% e 14%, respectivamente.
Na Saxônia, liberais e esquerdistas não devem conquistar uma cadeira sequer por não atingirem a cláusula de barreira. Na Turíngia, liberais e verdes também devem ficar de fora do parlamento estadual.
Os primeiros resultados das eleições regionais confirmam também um duro golpe para o governo de coalizão do primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, com os Verdes e os liberais do FDP, a um ano das eleições legislativas de 2025.
Partido de extrema direita pela 1ª vez na liderança desde a Segunda Guerra
A vitória da AfD na Turíngia é inédita no país desde o pós-guerra: nunca o partido de extrema direita havia terminado uma eleição estadual em primeiro lugar. No entanto, é pouco provável que o partido governe a região, pois as outras formações rejeitam qualquer coalizão com essa legenda.
O candidato a governador da sigla é Björn Höcke, cuja alcunha de “fascista” foi chancelada por um tribunal alemão, e o diretório estadual do partido é considerado uma ameaça à ordem democrática alemã.
É improvável, porém, que a AfD assuma o governo da Turíngia.
Isso porque, na Alemanha, os governos estaduais também são parlamentaristas. Isso quer dizer que, para ter o posto de governador do estado, um partido precisa conquistar mais da metade dos assentos no parlamento estadual. Mas como nem sempre um partido sozinho elege tantos deputados, muitas vezes é necessária a formação de coalizões entre as legendas.
Ainda assim, o resultado da AfD na Turíngia não deixa de representar uma vitória para o partido de Höcke: além de ter ampliado sua margem de votos em relação a 2019 (21,7%), a sigla ganhará poder de veto sobre diversas decisões, influenciando por exemplo a escolha de juízes.
Já o partido A Esquerda, cuja dissidência deu origem à BSW, perde o controle do governo estadual, indo de 31% dos votos em 2019 para 12,5% de intenções de voto.
Para evitar uma aliança com a AfD, a CDU pode vir a formar uma insólita coalizão na Turíngia e na Saxônia com a BSW, que em dois pontos – políticas econômicas de esquerda e política externa pró-Rússia – não poderiam estar mais distantes dos conservadores da CDU.
Prévia das eleições gerais em 2025?
Embora a Saxônia e a Turíngia concentrem uma população combinada de 6,3 milhões de pessoas (menos de um décimo da população do país), as eleições locais estão sendo encaradas com atenção no restante da Alemanha.
As campanhas foram dominadas por temas nacionais como política de imigração e o apoio alemão à Ucrânia, que são vistos de forma mais crítica por parte da população do leste, onde há proporcionalmente menos estrangeiros e, segundo pesquisas, uma maior prevalência de opiniões favoráveis à Rússia.
Petra K’pping, Ministra dos Assuntos Sociais da Saxônia e principal candidata do SPD para as eleições estaduais de 2024 na Saxônia, e o Chanceler Alemão Olaf Scholz.
Hendrik Schmidt/dpa via AP
O resultado deste domingo aumenta a pressão sobre a coalizão do governo federal, liderada por Olaf Scholz (SPD), que sofre com reprovação em todo o país apenas um ano antes da próxima eleição federal, marcada para o final de setembro de 2025.
Entre as legendas tradicionais, apenas a CDU, hoje na oposição, se saiu bem.
A votação também complica a formação de coalizões de governo estaduais e arrisca levar especialmente a Turíngia a um cenário de paralisia política, diante da fragmentação do eleitorado e da ascensão da AfD, com quem nenhum outro partido admitiu até agora formar coalizão.
Há ainda o impacto na política nacional, já que parte dos membros do governo estadual, especialmente o governador, passa a integrar o Bundesrat, a Câmara alta do Parlamento alemão, composta por representantes políticos dos 16 estados federados alemães.
Segundo a Constituição alemã, é por esse colegiado que os parlamentos regionais “participam na criação de leis e administração da União e em assuntos da União Europeia”. Quando os deputados federais do Bundestag – a Câmara baixa do Parlamento – aprovam uma nova lei, o órgão pode aprovar, vetar ou alterar os textos. Algumas leis na Alemanha só são aprovadas depois de passarem pelo Bundesrat.

Fonte da Máteria: g1.globo.com