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Dora Morelenbaum se expande em tom juvenil no primeiro álbum solo, ‘Pique’


Integrante da banda Bala Desejo, artista canta Sophia Chablau e apresenta parcerias com Tom Veloso e Zé Ibarra em disco produzido por Ana Frango Elétrico. Dora Morelenbaum
Maria Cau Levy / Divulgação
Capa do álbum ‘Pique’, de Dora Morelenbaum
Maria Cau Levy e Ana Frango Elétrico
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Pique
Artista: Dora Morelenbaum
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ O fato de Dora Morelenbaum ter confiado a Ana Frango Elétrico a produção musical do primeiro álbum solo da cantora, compositora e instrumentista carioca, Pique, diz muito sobre o disco gravado entre abril e dezembro de 2023 no Wolf Studio na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).
Dora assina a coprodução do álbum lançado na sexta-feira, 18 de outubro, pelo selo Coala Records. Contudo, a personalidade musical de Frango Elétrico se impõe na arquitetura de músicas como Venha comigo (Sophia Chablau) e Sim, não (Dora Morelenbaum).
Ao longo das 11 faixas do álbum Pique, Dora Morelenbaum se abre para uma expansão juvenil que, de certa forma, reverbera a estética de Frango Elétrico e também o som doce-bárbaro-indie da Bala Desejo, banda que, a partir de 2022, deu projeção à artista em quarteto formado com Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra.
Filha do violoncelista e arranjador Jaques Morelenbaum, Dora se recusa a ficar sob sombra do pai, como no belo single de estreia Dó a dó (2020), mas tampouco evita contatos com o nobre D.N.A. da família. Há a marca de Jaques no arranjo das cordas orquestradas pelo violoncelista na balada Essa confusão, parceria de Dora com Zé Ibarra.
Outra balada, Não vou te esquecer, da parceria da artista com Tom Veloso, roça a introspecção ao abrir o álbum Pique, como se fizesse link com o EP Vento de beirada (2021), lançado por Dora há três anos com ecos de Ryuichi Sakamoto (1952 – 2013) nas três faixas produzidas pela artista com a mesma Ana Frango Elétrico, mas com uma assinatura própria mais bem delineada.
Há quarteto de jazz – com baixo (Alberto Continentino), bateria (Sérgio Machado), guitarra (Guilherme Lino) e teclados Hammond e Rhodes (Luiz Otávio) – no toque das músicas de Pique, mas, a rigor, existe somente uma faixa de jazz no álbum.
Trata-se do vocalizado tema instrumental VW blue (Dora Morelenbaum), momento luminoso de disco que, no todo, transita pela trilha vasta do pop contemporâneo, sempre bem arranjado, como exemplifica A melhor saída (Tom Veloso), faixa formatada com a adesão do ritmista Marcelo Costa na percussão.
Bafejada pelos sopros orquestrados pelo trompetista Diogo Gomes, Caco (Dora Morelenbaum e Zé Ibarra) ecoa a contracultura da MPB em período de desbunde. Introduzida pelo toque largo do baixo de Alberto Continentino, Petricor (Dora Morelenbaum e Tom Veloso) é faixa leve que parece levitar sobre as notas do vibrafone arranjado por Continentino.
Com música e arranjo de Dora e letra de Tom Veloso (nome recorrente nos créditos de cinco das 10 músicas do álbum), a composição-título Pique procura se desviar da melancolia, mas se enquadra na magra safra introspectiva do repertório. Na sequência, Talvez (As canções) amplia a parceria de Dora com Tom, harmonizando a trama dos violões de Josyara e Zé Ibarra com o quarteto-base do disco.
Antes que perca o pique, o álbum se encerra com outra parceria de Dora e Tom, Nem te procurar, desdobramento dançante da mesma canção que abre o disco com o título de Não vou te esquecer.
Enfim Dora Morelenbaum está na pista com disco feito com o pique jovial da turma da artista e, nesse sentido, Pique se afina com o já mencionado EP antecessor Vento de beirada. Isso é um mérito, mas também um problema. Porque Dora Morelenbaum – assim como o talentoso Zé Ibarra – já deixou a impressão de ser melhor e mais autossuficiente do que grande parte dessa turma…

Fonte da Máteria: g1.globo.com