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'Conclave' constrói um ótimo e imprevisível drama religioso; g1 já viu


Filme dirigido por Edward Berger, de ‘Nada de novo no front’, foi o escolhido para encerrar o Festival do Rio 2024. Ralph Fiennes é o grande destaque do elenco “Conclave” foi o filme que encerrou oficialmente o Festival do Rio em 12 de outubro — curiosamente, data em que se comemora o Dia da Padroeira do Brasil. Com lançamento previsto para janeiro de 2025, o longa traz de volta um gênero que, desde as adaptações de “O Código da Vinci”, estava um pouco adormecido no cinema: o drama religioso de ficção voltada ao Vaticano.
A produção comandada por Edward Berger, que chamou a atenção por seu trabalho em “Nada de novo no front” (vencedor de quatro Oscars), tem tudo para ser lembrada na temporada de premiações. Afinal, o filme conta com uma técnica impecável, um elenco incrível que não deixa a peteca (ou melhor, o crucifixo) cair e, principalmente, uma condução louvável para narrar muito bem sua história.
A partir do livro “Conclave” — publicado por Robert Harris em 2016 —, o longa começa logo após a morte do Papa (Bruno Novelli), devido a uma grave doença. Por causa disso, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes, de “O Grande Hotel Budapeste” e “King’s Man: A Origem”) é o escolhido para coordenar o conclave, cerimônia que reúne outros cardeais para eleger o novo sumo pontífice.
Assista ao trailer do filme “Conclave”
À medida que a eleição avança, Lawrence começa a lidar com questões problemáticas envolvendo os candidatos, o que torna o ritual ainda mais complicado do que ele esperava. Para piorar, o cardeal descobre um segredo impactante, capaz de mudar toda a Igreja Católica de forma irremediável.
Anjos e Demônios
O que torna “Conclave” uma obra fascinante é o fato de Berger demonstrar controle e sabedoria na narração. Assim, o diretor nunca parece perder tempo com elementos desnecessários que poderiam dar voltas na trama. Ele mantém tudo no tempo e ritmo corretos, para não deixar o público perdido com tantos detalhes a respeito dos rituais do Vaticano que surgem na história.
Além disso, o cineasta consegue prender o espectador com os olhos grudados na telona graças ao bom desenvolvimento dos personagens, além das reviravoltas da trama. Isso também é mérito do bom roteiro assinado por Peter Straughan (indicado ao Oscar por “O espião que sabia demais”, 2012), que cria bons diálogos e situações que surpreendem pela qualidade e pelos questionamentos sobre fé, religião e o atual papel da Igreja Católica.
Cena do filme ‘Conclave’, de Edward Berger
Divulgação
No roteiro, os cardeais que participam do conclave demonstram virtudes, mas também defeitos. Diante da possibilidade de assumir o posto mais alto da Igreja, os religiosos são capazes de cometer atos condenáveis.
Outro destaque de “Conclave” está na apurada técnica do filme, em especial a bela fotografia assinada por Stéphane Fontaine (de “Jackie”), que cria belos enquadramentos, como uma cena em que os cardeais se protegem de uma chuva, o que dá uma imagem interessante — dessas de emoldurar e colocar num quadro. A trilha sonora composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por “Nada de novo no front”) também chama a atenção pelos tons solenes que pontuam bem as cenas mais tensas.
Elenco divino
“Conclave” ainda se beneficia de um elenco mais do que eficiente. A começar por Ralph Fiennes, que já é conhecido do grande público, especialmente por suas participações em franquias como “Harry Potter” e “007”.
Ralph Fiennes e Stanley Tucci numa cena do filme ‘Conclave’
Divulgação
Como o cardeal Lawrence, Fiennes consegue transmitir bem os conflitos de seu personagem, que lida com uma grande responsabilidade e problemas inusitados. À medida que eleição no Vaticano avança, ele deixa seu corpo cada vez mais curvo. Não será surpresa se o ator for lembrado nas grandes premiações de 2025.
Além de Fiennes, Stanley Tucci brilha como o centrado Cardeal Bellini, que busca uma visão contemporânea para a Igreja, mas, diferentemente de seus colegas, não deseja tanto ser o novo Papa. Já John Lithgow (“O escândalo”) constrói bem seu ambicioso cardeal Tremblay, que faz articulações para conquistar o poder, mas sempre com um jeito de parecer mais vítima do que algoz. O italiano Sergio Castellitto representa corretamente o cardeal Tedesco, que transparece o conservadorismo relacionado a alguns dogmas religiosos.
Sem muito espaço para personagens femininas, Isabella Rossellini (“La Chimera”) se destaca como a irmã Agnes, freira que participa da organização do conclave e sabe de um segredo capaz de complicar ainda mais a cerimônia. Embora ela apareça pouco, o que é um dos poucos pecados do longa, a presença é marcante.
Isabella Rossellini interpreta uma misteriosa freira em ‘Conclave’
Divulgação
Com um desfecho realmente surpreendente, “Conclave” tem tudo para ser um dos filmes mais comentados pelo público quando estiver nos cinemas. Quem for assistir essa bela e intrigante obra, terá muito para pensar e refletir sobre o que assistiu, não só sobre suas crenças, mas também sobre visão mudana. Algo que não se vê muito na maioria das produções atuais.
Cartela resenha crítica g1
g1

Fonte da Máteria: g1.globo.com