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Zélia Duncan dá um ‘bailão’ na vida ao chegar aos 60 anos com relevância artística e uma voz cada vez mais ativa


♫ CRÔNICA
♪ Há 30 anos, Zélia Duncan lançou lapidar álbum autoral com que começou a fazer nome na música brasileira. Em 1994, a cantora, compositora e instrumentista fluminense – cria de Niterói (RJ) que pôs os pés na profissão em Brasília (DF) em 1981 – tinha 30 anos.
Corta para o presente ano de 2024! Zélia faz 60 anos hoje, 28 de outubro, com relevância artística maior do que em 1994, ano de consolidação da carreira iniciada há então 13 anos na capital do Brasil.
Aberta com set do DJ Zé Pedro, a festa na esfera pública aconteceu na noite de sábado, 26 de outubro, quando a artista apresentou o Bailão ZD 60 no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ), com convidados como Almério, Ana Costa, Isabella Taviani, Lucina, Paulinho Moska e Simone, entre outros artistas que se fizeram presentes ao longo dos 43 anos de trajetória profissional de Zélia Duncan.
Amigo foi casa erguida sob a lona mais calorosa da cena carioca. A sós ou com os convidados, a cantora deu voz a 30 músicas que sintetizaram os caminhos trilhados por Zélia, conectando a artista ativista de 2024 com a adolescente insegura de 16 anos que fez o primeiro show em 21 de maio de 1981 na Sala Funarte de Brasília (DF) após vencer concurso que lhe deu o direito de nascer no palco.
“É pelos palcos que vivo, seguindo o meu destino / É tudo desde menina, é muito mais do que isso / É bem maior que aquilo, sereia eis minha sina”, resumiu a cantora nos versos de Quem canta seus males espanta (Itamar Assumpção e Ná Ozzetti, 1993), música não por acaso escolhida para abrir o Bailão ZD 60.
Será que é divina a sina dessa artista que também é atriz, tendo deixado a veia teatral pulsar já no primeiro show com maior ambição artística, Zélia Cristina no caos, destaque da cena alternativa carioca em 1989?
Se a vida é um palco, Zélia Cristina Duncan Gonçalves Moreira, cidadã brasileira, interpreta a si mesma na divina comédia humana e vem se fazendo ouvir com a voz grave e ativista, militando a favor das liberdades individuais, sociais e políticas.
Zélia Duncan (à direita) recebe convidados como Simone ao fazer ‘Bailão ZD 60’ no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ)
Cristina Granato / Divulgação
A rigor, Zélia Duncan tem se revelado a partir dos (nomes de) discos como Intimidade (1996), Sortimento (2001), Eu me transformo em outras (2004), Pré-pós-tudo-bossa-band (2005), Pelo sabor do gesto (2009), Tudo é um (2019) e Minha voz fica (2021), de cujo repertório a cantora escolheu a canção – Fica, primeira parceria de Zélia com Alzira E – que encerrou o roteiro.
Tão pele quanto espírito no palco do Circo Voador, a cantora pôs Coração na boca (1996) com a parceria Lucina, aflorou Sentidos (1994) – tema sensual da parceria com Christiaan Oyens, recorrente nos anos 1990 – com Almério e Isabella Taviani, com quem também fez dueto na canção Não vá ainda (1994), outra parceria com Oyens.
Com Simone, ídola da adolescência que virou amiga e colega de trabalho, Zélia reviveu A idade do céu (Jorge Drexler, 1999, em versão em português de Paulinho Moska, 2003), cantou Gatas extraordinárias (Caetano Veloso, 1999) e fez florescer Petúnia Resedá (Gonzaguinha, 1978) em roteiro retrospectivo que abriu espaço para músicas como Verbos sujeitos (1998), outra parceria com Christiaan Oyens.
Em essência, o Baião ZD 60 foi a celebração de uma vida que tem importado na cena musical do Brasil. São poucos os artistas que ultrapassam os 40 anos de carreira com vigor renovado e com a chama acesa.
Aos 60 anos, Zélia Duncan pode se orgulhar das escolhas que fez na vida e na música. E de não ter desistido ao longo dos anos 1980, década em que atravessou os desertos encarados por todo artista iniciante.
Após o auge comercial proporcionado pelo álbum Zélia Duncan (1994), a artista descartou as fórmulas de sucesso, se livrou dos rótulos, lutou quando era fácil ceder, negou quando a regra era vender a alma ao mercado e, por fim, declarou a independência artística com o show e disco Eu me transformo em outras (2004), marcos da autonomia da artista.
Desde então, virou até clichê se referir a Zélia Duncan como uma cantora em permanente transformação, mas com a mesma personalidade artística que já se insinuou no titubeante álbum de estreia Outra luz (1990) e que começou a se firmar no definidor disco de 1994.
Trinta anos depois desse álbum fundamental, é possível afirmar que Zélia encontrou o lugar dela. E que, vencidas as guerras, a artista pode festejar em paz os 60 anos de vida, pois a voz cada vez mais ativa de Zélia Duncan fica.
Zélia Duncan – vista no palco do Circo Voador no festivo ‘Bailão ZD 60’ apresentado no sábado, 26 de outubro – faz 60 anos hoje, 28 de outubro de 2024
Cristina Granato / Divulgação

Fonte da Máteria: g1.globo.com