“Depois de duas tentativas de suicídio e um câncer, tudo é lucro”, contabiliza o artista no filme que entra em circuito na próxima quinta-feira, 28 de novembro. Ilustração de Edy Star exibida no documentário de Fernando Moraes sobre o multimídia artista baiano que faz 87 anos em janeiro
Reprodução / Vídeo
♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL
Título: Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star
Direção: Fernando Moraes
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ “Para mim, ele é um pioneiro e um libertador”, conceitua Caetano Veloso. “É uma coisa meio Alice Cooper com Sérgio Murilo, com Caetano Veloso, até chegar em Preta Gil”, embaralha o guitarrista Renato Piau. “Alegre! Bahia, né, meu amor?”, sintetiza a atriz e cantora Rogéria (1943 – 2017). “É um mal necessário”, dispara o pesquisador musical Rodrigo Faour.
Esses e outros depoimentos são enfileirados no prólogo do documentário Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star para (tentar) classificar o indefinível Edivaldo Souza, showman baiano nascido em 10 de janeiro de 1938 em Juazeiro (BA), cidade natal de João Gilberto (1931 – 2019), Ivete Sangalo e Josyara.
Para quem não liga o nome aos fatos, Edy Star é pioneiro artista multimídia da cena glam brasileira dos anos 1970. Um cantor e compositor que extravasa rótulos e que, perto dos 87 anos, pode se gabar de ter vivido a vida com total liberdade, a ponto de ter sido gay assumido na Bahia dos anos 1950, época em que a homossexualidade era praticada dentro dos armários.
Apresentado em São Paulo (SP) na programação do 32º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, o filme de Fernando Moraes entra em circuito na próxima quinta-feira, 28 de novembro, com distribuição da Lança Filmes, após circular por festivais desde 2019.
Moraes segue a cartilha dos documentários ao entrelaçar depoimentos (colhidos há cerca de dez anos, como se percebe pela aparência dos depoentes) com imagens de arquivo – as fotos são raras e reveladoras, como a que mostra o artista na Espanha ao lado do cineasta Pedro Almodóvar – e com entrevistas exclusivas de Edy Star nas quais o artista faz o inventário da própria vida louca vida.
“Depois de duas tentativas de suicídio e um câncer, tudo é lucro”, contabiliza Star com a franqueza que conduz o papo do artista com o diretor Fernando Moraes.
No filme, Edy Star volta a Salvador (BA) para rever locais importantes na trajetória artística – como o Teatro Vila Velha, palco de lançamento das carreiras de Caetano Veloso, Gal Costa (1945 – 2022), Gilberto Gil e Maria Bethânia – e na vida pessoal, caso do Castelo de Matos, espécie de motel e prostíbulo onde homens se relacionavam com homens às escondidas. “Entrar aqui, meu amor, era o paraíso”, diz um maroto Edy diante da entrada do castelo, batizada por ele de “portinha do céu”.
Sem pretensão de deixar legado após a saída de cena (“Não estou nem aí se vão ou não lembrar de mim”), Edy minimiza até o próprio documentário que lhe faz justiça. “O título é longo e pretensioso”, alveja, referindo-se ao nome do filme de Fernando Moraes.
Em evidência nos anos 1970, década em que lançou o primeiro álbum solo, …Sweet Edy… (1974), disco transgressor que completa 50 anos em 2024. O segundo, Cabaré Star, foi lançado somente em 2017. O filme expõe takes da feitura deste álbum idealizado e produzido por Zeca Baleiro, mas o suprassumo do documentário são as entrevistas e depoimentos.
Entrevistado do tipo que não faz tipo, Edy Star lembra diante das câmeras de Fernando Moraes que Raul Seixas (1945 – 1989) vivia desprezado anos antes de morrer, para citar somente um exemplo.
Edy está ligado a Raul porque formou com o roqueiro conterrâneo, Miriam Batucada (1947 – 1994) e Sérgio Sampaio (1947 – 1994) o fantástico quarteto que gravou o mítico álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10 (1971), cujas lendas são desmentidas por Edy Star no filme.
Cabe lembrar que foi por conta de show em que Edy cantou o repertório de Raul na edição de 2009 da Virada de São Paulo que o performer voltou à mídia. Mas Edy Star afirma não ter ilusões quando a voltar a fazer sucesso.
Com a sabedoria de quem abalou o marginalizado circuito carioca das boates da Praça Mauá na década de 1970 com shows performáticos que geraram burburinho no meio artístico, Edy Star parece viver a vida como Edilvado Souza, sem o glamour de tempos idos, mas com a liberdade que sempre pautou a vida do artista inclassificável.
Edy Star no show feito anteontem, 20 de novembro, no 32º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade para lançar o documentário de Fernando Moraes
Divulgação / Mix Brasil 2024
Fonte da Máteria: g1.globo.com