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Justiça argentina acusa médica brasileira em caso de morte de modelo ao cair de prédio em Buenos Aires


Médica Juliana Magalhães Mourão estava no apartamento de onde a modelo baiana Emmily Gomes caiu em 2023 e não prestou socorro, segundo Justiça. Médica foi acusada durante audiência esta semana sobre o caso, ainda sem resolução. Empresário argentino é o principal suspeito. A brasileira Emmily Rodriguez
Reprodução/ Redes sociais
A Justiça argentina acusou nesta semana uma médica brasileira no caso da morte da modelo baiana Emmily Rodriguez, que caiu do sexto andar de um apartamento em Buenos Aires em 2023.
A médica Juliana Magalhães Mourão, que estava no apartamento, foi acusada de ter abandonado a amiga em vez de socorrê-la, principalmente por ser médica, durante uma audiência sobre o caso em um tribunal em Buenos Aires.
Até agora, Juliana Magalhães Mourão era apenas testemunha no episódio da morte de Emmily Gomes, que caiu do sexto andar, numa altura de 21,5 metros, em 30 de março de 2023.
O empresário argentino Francisco Sáenz Valiente, dono do apartamento de onde Gomes caiu e suspeito de ser o responsável pela morte, também passou a ser acusado de abandono de pessoa pela polícia.
Os advogados que representam a família de Emmily Rodriguez acusam Francisco Sáenz Valiente e Juliana Mourão de serem os autores do crime contra a modelo.
“Durante todo o processo, a defesa evidenciou uma obsessão por manter Juliana como testemunha porque era a única defesa de Sáenz Valiente. Juliana tinha uma relação estável de amante do empresário. Era a única na qual ele confiava. O indiciamento rompe a estratégia da defesa e permite apontarmos para a nossa convicção de que a morte de Emmily foi um homicídio entre duas pessoas. Juliana não foi cúmplice nem encobriu. Foi coautora”, afirmou à RFI a advogada Raquel Hermida, representante do pai de Emmily, Aristides da Silva Gomes.
A médica brasileira será interrogada em 4 de dezembro. A Promotoria limita-se à acusação de abandono de pessoa, mas a acusação pretende mais do que isso.
“O caso de Juliana seria feminicídio e abuso sexual. Procuramos isso. Porém, mesmo se condenada por abandono de pessoa, uma médica pode perder o direito de exercer a profissão”, afirmou a advogada Raquel Hermida.
Na terça-feira (26), o empresário Francisco Sáenz Valiente pediu que a Justiça retire a tornozeleira eletrônica que ele usa desde junho de 2023. A decisão pode levar cinco dias úteis.
A acusação contra Juliana Mourão e Francisco Sáenz Valiente
Na audiência de segunda-feira, o empresário preferiu não declarar. Ele também foi acusado de porte ilegal de arma.
“O indiciado organizou um encontro no seu domicílio particular, em coordenação com Juliana Magalhães Mourão, que facilitou a presença de mulheres para que lhe fornecessem serviços sexuais em troca de dinheiro. Nesse contexto, Sáenz Valiente facilitou cocaína e cocaína rosa, distribuída em pratos ou livros para que se consumissem as quantidades que desejassem”, diz a ata da ampliação do interrogatório à qual a RFI teve acesso.
“Entre as 7h e as 9h18 (horário da queda), continuou com o fornecimento de drogas e de bebidas alcóolicas à Emmily, apesar do grau de ausência de autodeterminação que ela possuía. E não deu assistência nem procurou a assistência médica que a danificada requeria”, afirma o texto.
No dia 30 de março de 2023, a modelo brasileira Emmily Gomes caiu do sexto andar no pátio interno do apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente.
O exame toxicológico indicou consumo de drogas como álcool, maconha, MDMA, cetamina e cocaína.
O empresário foi inicialmente acusado de feminicídio e ficou preso por três semanas, em abril de 2023. Em junho, a Promotoria preferiu a acusação de homicídio culposo com fornecimento de estupefacientes e facilitação de local para consumo.
Agora, ele é também acusado de abandono de pessoa porque as drogas fornecidas durante longas horas levaram a um quadro cujo desenlace poderia ter sido evitado se tivesse chamado socorro. Passaram-se mais de duas horas entre os sintomas e a morte de Emmily.
Cenário sexualizado
Polícia da Argentina investiga morte da baiana Emmily Rodrigues
As acusações da Promotoria estão baseadas nos testemunhos dos presentes no apartamento. Além de Francisco e Juliana, outras duas mulheres que se retiraram antes da queda de Emmily, Lía Figueroa Alves e Dafne Gutiérrez.
“A danificada teve uma descompensação psiquiátrica que durou, pelo menos, duas horas, período durante o qual foi abandonada por Francisco Sáenz Valiente e por Juliana Mourão. Esta situação de perigo concreto na saúde da vítima, que atingiu um estado de excitação psicomotora criada pelo fornecimento de estupefacientes por parte do indiciado, determinou que Emmily caísse pela janela do sexto andar”, entende a acusação.
“Durante o lapso de tempo no qual Emmily manteve esse estado de alteração psíquica, arriscado para si e para terceiros, tanto Sáenz Valiente quanto Magalhães Mourão decidiram continuar com a reunião sem pedir assistência médica necessária”, continua a acusação.
“Tudo isso transcorreu num contexto sexualizado no qual Emmily estava seminua no quarto de Sáenz Valiente, onde havia também preservativos usados, brinquedos sexuais, uma cama para massagens, entre outros elementos de conotação sexual. Saénz Valiente estava de cueca ou de calção com o tronco nu, enquanto escutavam música e consumiam drogas e álcool”, descreve a Promotoria.
Pedido de socorro só veio quando os vizinhos perceberam
Juliana Magalhães Mourão e Francisco Sáenz Valiente mantiveram o domínio do que acontecia no apartamento e continuaram com o encontro, em vez de atenderem a saúde da vítima. Somente meia hora mais tarde, às 9h09 e às 9h13, os indiciados se viram forçados a pedirem assistência quando o surto que Emmily padecia, agravado pela privação de atendimento, era advertido pelos vizinhos. Quase ao mesmo tempo das chamadas de Sáenz Valiente, vários vizinhos escutaram os gritos de Emmily e telefonaram ao 911 (Emergências). Emmily já estava num estado de desespero eufórico, de terror e de pranto, pedindo socorro aos gritos”, detalha o escrito.
“As ações de auxílio concretas por parte de Francisco Sáenz Valiente e de Juliana Magalhães Mourão, ao serem tardias, privaram Emmily de uma assistência médica que poderia ter salvo a sua vida”, conclui a acusação.
No texto, o Ministério Público esclarece que “a parte reclamante possui outra hipótese para o caso que difere desta da Promotoria”.
Em diálogo com a RFI, a parte reclamante descreveu a sua hipótese: “Foi um crime para se desfazerem de Emmily depois de um abuso sexual. Emmily não foi até o apartamento para ter relações sexuais. Francis Sáenz Valiente tinha uma obsessão por ela. Ela não quis ter sexo e isso a colocou numa situação na qual lhe injetam droga. Eles a colocaram num estado de alteração psiquiátrica. Ela não estava drogada quando chega ao apartamento e cai inconsciente”, interpreta Raquel Hermida.
“Se Emmily tivesse dado o consentimento, estaria viva”, conclui a advogada.

Fonte da Máteria: g1.globo.com