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'Ainda estou aqui' faz de história pessoal inspiradora um sensível alerta contra o fascismo; g1 já viu


Fernanda Torres brilha em filme do reencontro de Fernanda Montenegro e o diretor Walter Salles. Adaptação de livro de Marcelo Rubens Paiva estreia em 7 de novembro. Apesar de adaptar o livro de memórias de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda estou aqui” faz da história muito pessoal da família do escritor um alerta bem universal sobre os perigos do fascismo.
Com o olhar sensível do diretor Walter Salles – um breve reencontro com Fernanda Montenegro – e a interpretação hipnotizante de Fernanda Torres, se junta à lista de filmes brasileiros que marcam gerações, como “Central do Brasil” (1998) e “Cidade de Deus” (2002).
Depois do prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza, diversos elogios da imprensa estrangeira, e algumas exibições disputadas na Mostra de SP, a obra estreia no país em 7 de novembro como a maior chance de indicação nacional ao Oscar em mais de duas décadas.
Assista ao trailer de ‘Ainda Estou Aqui’
Uma história resumida
É possível resumir o filme como a história da mãe do escritor, Eunice Paiva (Torres), uma dona de casa de uma família influente que é obrigada a se reinventar após o assassinato de seu marido pela ditadura militar nos anos 1970.
Sinopses são inevitavelmente reducionistas, mas essa parece ainda mais do que o normal. “Ainda estou aqui”, dividido pelo desaparecimento do engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva (Selton Mello), vai muito além.
A primeira metade é o retrato ensolarado de um casal apaixonado e seus cinco filhos, com uma bela casa na beira da praia no Rio de Janeiro.
Na segunda, cortinas se fecham e o lar se esvazia com a ausência de Rubens – e a interpretação imensa de Torres preenche esse espaço com o propósito furioso, porém contido de uma mãe que se recusava a chorar na frente dos filhos.
Selton Mello e Fernanda Torres em cena de ‘Ainda estou aqui’
Divulgação
Mulheres notáveis
Salles não precisa mostrar os horrores aos quais o engenheiro foi submetido até sua morte. O desespero da família com a falta de respostas e a absoluta falta de decência e respeito do regime estampadas na tela são mais do que suficientes para mostrar os perigos do fascismo e calar – com algum otimismo – aqueles que pedem o retorno de uma ditadura.
A sensibilidade do cineasta e dos roteiristas, Murilo Hauser e Heitor Lorega, impedem que o alerta soe enfadonho. Mesmo assim, o projeto não seria nada sem essas duas mulheres notáveis.
A história de Eunice – que se torna uma das ativistas de Direitos Humanos mais importantes do país após voltar à faculdade com mais de 40 anos, ao mesmo tempo em que luta para que militares reconheçam o que fizeram com seu marido – sempre daria um grande filme.
Mas Torres eleva sua interpretação à altura da retratada e, com isso, alça a obra a patamares ainda mais altos. Com elas, Salles, o roteiro sem gorduras e um elenco dos mais competentes, “Ainda estou aqui” é muito mais do que a soma de suas partes – uma espécie de progressão geométrica da qualidade.
‘Guilherme Silveira, Selton Mello, Cora Ramalho e Fernanda Torres em cena de ‘Ainda Estou Aqui’
Divulgação
E Fernandona?
Todo mundo vai encontrar algo com que se identificar e se relacionar em “Ainda estou aqui”. Quando a trama avança, é difícil segurar as lágrimas diante da felicidade absurda da protagonista que se recusa a não sorrir, a deixar que tomem sua dignidade.
A vitória simbólica sofre contraste ainda maior com a cena final, na qual Montenegro toma o papel da filha. A atriz veterana prova em poucos minutos por que é a maior que temos, sem falas e um olhar perdido por causa do Alzheimer.
A forma de Eunice a essa altura pode ser muito diferente da mulher esbelta e elegante do começo do filme, mas o filme mostra que sua situação é a mesma, cercada pelo amor dos familiares como as primeiras cenas – mesmo que a memória não registre mais.
Cartela resenha crítica g1
g1

Fonte da Máteria: g1.globo.com