Vencedor da Palma de Ouro, em Cannes, é um dos favoritos para indicações ao Oscar. Exibido na Mostra de SP, filme estreia no Brasil só em janeiro. Em uma temporada de premiações cheia de grandes possíveis concorrentes e poucas unanimidades, “Anora” desponta como um dos favoritos com seu jeitão meio boneca russa de gêneros.
À primeira vista, o ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes até parece apenas uma excelente e muito carismática comédia romântica com toques eróticos sobre uma stripper (Mikey Madison) que conhece e se casa com um jovem herdeiro russo (Mark Eidelshtein).
Mas não demora para que o novo filme escrito e dirigido por Sean Baker (“Projeto Flórida”), que faz parte da Mostra de SP mas que só estreia no Brasil em 23 de janeiro de 2025, se desdobre em múltiplas novas camadas – de história baladeira com drogas e sexo a romance fofinho “good vibes” a farsa hilária e caótica com toques de crítica social cínica.
Todo esse incrível e excitante universo escondido, disfarçado em situações previsíveis, é guiado pela presença exuberante de Madison.
Assista ao trailer de ‘Anora’
Revelada com atuações psicóticas em “Era uma vez em… Hollywood” (2019) e “Pânico” (2022), ela supera o risco de passar o resto da vida escalada em papeis do tipo e prova ser uma força em ascensão inevitável em Hollywood.
Por trás da sensualidade e carisma de sua protagonista, a atriz de 25 anos abriga uma vulnerabilidade – e, ok, uma boa dose de loucura – indispensável para a virada de estilo da trama e o final arrematador.
A paixão improvável entre o casal, que começa como uma transação entre uma – digamos – fornecedora de serviços e um cliente afoito, até parece possível graças à sua atuação de gala.
O público não só entende como alguém se apaixonaria por ela em poucos dias a ponto de fazer a grande proposta, mas ainda pode acreditar que a jovem, em algum momento, talvez também tenha desenvolvido algo além da atração da segurança financeira.
Ao lado da americana, o melhor elenco de desconhecidos do ano apresenta uma das surpresas mais deliciosas do filme.
Yura Borisov, Mark Eidelshtein, Karren Karagulian, Mikey Madison e Artyom Trubnikov em cena de ‘Anora’
Divulgação
No início, é fácil se irritar com qualquer minuto longe do magnetismo da protagonista. Lenta e gradativamente, um trio de capangas (Karren Karagulian, Vache Tovmasyan e Yura Borisov) enviado pelos pais do rapaz para acabar com o casamento conquista um louvável equilíbrio.
Guiado por Madison e Baker, o roteiro afiado do cineasta dá aos três alguns dos momentos mais engraçados do cinema de 2024 e, apesar das gargalhadas, nunca perde de vista a história – e a mensagem – que quer contar.
Com quase duas horas e vinte minutos de duração, o filme se beneficiaria de um montador independente (o diretor assume também essa função). Outra pessoa talvez não tivesse tanta dificuldade em aparar arestas que prejudicam um pouco o ritmo lá pelo final.
Talvez seja de propósito. Depois de sua melhor e mais caótica sequência, o enredo mais uma vez reflete o estado de espírito de sua heroína em uma espiral constante de impotência e resignação cuja frustração só não é maior do que a força da porrada de seu desfecho.
Assim como sua protagonista, “Anora” não é perfeito, é selvagem e até pode ter um fim amargo, mas é engraçado e apaixonante – e dificilmente permite que alguém se arrependa do tempo dedicado.
Cartela resenha crítica g1
g1
Vache Tovmasyan em cena de ‘Anora’
Divulgação
Fonte da Máteria: g1.globo.com