Pesquisar
Close this search box.
Notícias

'Autocratas e ditadores fascinavam Trump', diz Merkel em livro de memórias


Ex-líder alemã descreve relação com presidente eleito dos EUA em “Liberdade”, livro de memórias que ela lançou nesta terça. Ela relata “uma sensação ruim” após encontro com o então presidente dos EUA em 2017, e defende decisões de manter proximidade com a Rússia e barrar a Ucrânia na Otan. Chanceler alemã, Angela Merkel fala com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante cúpula do G7
Bundesregierung/Jesco Denzel/Handout via REUTERS
Quando a ex-primeira-ministra da Alemanha Angela Merkel encontrou Donald Trump logo após o então presidente dos EUA assumir a Casa Branca, em 2017, ela disse ter ouvido de Trump “uma série de perguntas” a relação dela com Vladimir Putin.
“Ele estava claramente muito fascinado com o presidente russo […]. Nos anos seguintes, tive a impressão de que era atraído por políticos com tendências autocráticas e ditatoriais”, disse Merkel.
A declaração da poderosa ex-premiê alemã estão em no livro de memórias que ela lançou nesta terça-feira (26).
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
A revista alemã Zeit Magazin publicou alguns trechos do livro, intitulado Freiheit (Liberdade), sobre as interações da política conservadora com Donald Trump.
O encontro, em que o mandatário republicano repetiu as críticas à Alemanha feitas durante sua campanha eleitoral, deixou Merkel “com uma sensação ruim” sobre o então líder dos EUA, diz Merkel no livro.
Pedindo conselhos ao papa sobre Trump
Segundo Merkel, Trump “alegou que eu tinha arruinado a Alemanha ao aceitar tantos refugiados em 2015 e 2016, nos acusou de não gastar o suficiente com Defesa e nos criticou por práticas comerciais injustas”.
O então presidente norte-americano também reclamou do excesso de carros alemães em Nova York, o que ele considerava “uma pedra no sapato”, também escreveu a ex-líder alemã.
“Estávamos falando em dois níveis diferentes — Trump, no emocional; eu, no factual. Quando ele sequer prestava atenção aos meus argumentos, em geral era para transformá-los em novas acusações”.
Merkel, política democrata-cristã, chegou a pedir conselhos ao papa Francisco sobre o assunto, pouco antes da cúpula de 2017 do G20, em Hamburgo. Sem mencionar nomes, ela disse que perguntou ao pontífice como deveria manobrar opiniões fundamentalmente díspares num grupo de personalidades importantes.
“Ele entendeu logo e me respondeu diretamente: ‘Curve, curve, curve, mas se assegure de que não vai quebrar.'” Ela gostou da imagem: “Nesse espírito, eu ia tentar resolver meu problema com o Acordo de Paris e Trump, em Hamburgo, embora não soubesse exatamente o que isso significava, em termos concretos”.
Em junho daquele mesmo ano, o então presidente americano retirou seu país do acordo do clima.
Merkel ainda defende a Rússia
Freiheit foi lançado nesta terça em 30 países. Abarcando desde a juventude na República Democrática Alemã (RDA), sob regime socialista, aos 16 anos à frente do governo da República Federal da Alemanha (RFA) unificada, o volume de 736 páginas foi coescrito por Beate Baumann, consultora política de Merkel de longa data.
Entre outros temas da política mundial, a ex-líder conservadora, atualmente com 70 anos, defende tanto sua política de manter laços estreitos com a Rússia, quanto sua decisão, na cúpula de Bucareste, em 2008, de barrar o ingresso da Ucrânia e da Geórgia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – ambas posturas severamente criticadas, sobretudo desde o início da guerra russa contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
“Eu entendia o desejo de se tornar membro da Otan o mais rápido possível, porque elas queriam ser parte da comunidade ocidental após o fim da Guerra Fria.” No entanto a Aliança Atlântica tinha que considerar o efeito de cada novo filiado potencial em sua própria “segurança, estabilidade e capacidade de funcionar”, justifica.
Após a cúpula na capital da Romênia, Merkel voltou para casa com a sensação de que “nós, na Otan, não tínhamos nenhuma estratégia comum para lidar com a Rússia”: muitos países da Europa Central e Oriental “pareciam desejar que o país simplesmente desaparecesse, que não existisse”.
“Seria difícil culpá-los, pois haviam sofrido por longo tempo sob o regime soviético […]. Mas a Rússia, com seu arsenal nuclear, existia, sim, e era – e é – geopoliticamente indispensável.”
Angela Merkel é aplaudida durante eleição de Olaf Scholz no Parlamento

Fonte da Máteria: g1.globo.com