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Eleições nos EUA: eleitores contam como a inflação torna o sonho americano cada vez mais distante


O terceiro capítulo da viagem especial do Jornal Nacional pelos Estados Unidos investiga como o aumento do custo de vida impede que as novas gerações vivam tão bem ou melhor do que os pais deles. O Sonho Americano: 3º capítulo da série mostra como inflação causa ‘crise de esperança’ nos EUA
A viagem especial do Jornal Nacional pelos Estados Unidos investiga nesta quarta-feira (30) de que forma o aumento do custo de vida impede que as novas gerações alcancem o chamado “sonho americano”.
Na noite desta quarta-feira (30), a equipe do Jornal Nacional esteve na frente do ginásio onde Donald Trump fez um comício na cidade de Green Bay, no estado de Wisconsin. No mesmo horário, a candidata democrata Kamala Harris fez comício também em Wisconsin, só que na capital, Madison. O principal tema dos dois foi a economia.
Conversando com eleitores na porta do comício, eles disseram que ir ao supermercado hoje nos Estados Unidos custa o mesmo que ir a um restaurante antes da pandemia. Essa é a maior reclamação dos americanos hoje em dia.
Pontos importantes do estilo de vida americano – como pagar faculdade e comprar uma casa – se tornaram quase inacessíveis nas últimas décadas. Os americanos continuam entre os mais ricos do mundo, mas estão se sentindo muito pobres. Esse sentimento é explicado no terceiro episódio da série “O Sonho Americano”.
Bob Atwell começou sem nada. Hoje, ele é dono de um banco com US$ 9 bilhões em ativos
Jornal Nacional/ Reprodução
Quem você diria que representa o sonho americano? Bob Atwell começou sem nada. Hoje, ele é dono de um banco com US$ 9 bilhões em ativos. Como será que ele fez isso? Ele foi criado pela mãe na zona rural de Wisconsin.
“A gente não vivia na pobreza, como você vê no Brasil, mas o dinheiro era apertado”, diz.
Bob estudou, foi para a universidade e, na pós-graduação, conseguiu entrar na Universidade de Yale, uma das mais respeitadas do mundo.
“Eu pagava US$ 5 mil por ano”, conta.
Quando terminou, Bob quis voltar para perto de casa, no estado de Wisconsin.
“Eu não tinha contatos, eu me candidatei a algumas vagas e não foi difícil aceitar a única que me ofereceram”, diz.
No primeiro emprego, ganhava por ano US$ 55 mil. Logo conseguiu comprar uma casa com a esposa.
“Eu paguei US$ 89 mil em 1993. A mensalidade da prestação do financiamento era US$ 500”, conta.
Se ele parasse aí, já teria conquistado a ideia que dá o nome a essa série: o sonho americano. A partir dos anos 1960, esse sonho tinha uma receita pronta: uma casa em um bairro bom, uma cerca branca, uma esposa, dois filhos, um cachorro, dinheiro suficiente para pagar seus gastos e ainda sobrar um pouquinho.
Eleições nos EUA: eleitores contam como a inflação torna o sonho americano cada vez mais distante
Jornal Nacional/ Reprodução
Mas essa ideia está cada vez mais distante para a maioria dos americanos, como os que vão a um evento que para a cidadezinha de Waupaca. É uma corrida de tratores e picapes com um quê a mais: o cheiro de óleo queimado, o barulho ensurdecedor. Porque eles estão puxando toneladas para ver quem tem o melhor motor e habilidade. São carros e tratores usados nas fazendas no dia a dia.
Felipe Santana, repórter: O que você acha da economia americana hoje?

“Está horrível. Tudo está muito caro, parece que ninguém liga”, diz um morador.

“Tudo subiu muito de preço. É difícil chegar ao fim do mês”, afirma outro.
Durante a pandemia, o Banco Central americano imprimiu US$ 5 trilhões para ajudar o governo a pagar trabalhadores que não podiam trabalhar e também para ajudar negócios, estados e municípios. Como também gastaram pouco, os americanos conseguiram guardar dinheiro na poupança: mais de US$ 2 trilhões . Quando a pandemia acabou, os preços subiram. Hoje, está tudo em média 20% mais caro desde a pandemia.
Isso é sentido até no “tailgate”, que é o churrasquinho que os americanos fazem no estacionamento antes de uma partida de futebol americano.
“Está muito difícil comprar comida. Você tem que sobreviver como consegue”, afirma um morador.
É difícil, principalmente, para os mais jovens, que são os que mais reclamam da distância do sonho americano.
“Morar sozinha não é fácil. Está apertado”, diz uma moradora.
Mas essa inflação acumulada desde a pandemia foi só a gota d’água de décadas de aumento de preços. A mesma universidade que custava US$ 5 mil por ano para o Bob, hoje custa US$ 90 mil por ano. Ou seja, os estudantes saem de lá com uma dívida de US$ 360 mil. A casa que Bob comprou por US$ 89 mil, hoje está avaliada em US$ 250 mil.
Eleições nos EUA: eleitores contam como a inflação torna o sonho americano cada vez mais distante
Jornal Nacional/ Reprodução
O salário médio em Wisconsin é de US$ 43 mil por ano – menos do que Bob ganhava nos anos 1990. Para manter um padrão de vida como o Bob tinha naquela época, um casal precisaria ganhar no mínimo US$ 161 mil em Wisconsin.
“O sonho americano trazia uma promessa implícita: cada geração vai viver um pouco melhor do que as gerações passadas. Essa cláusula do contrato do sonho americano acabou. As novas gerações estão percebendo que vão viver pior do que viviam seus pais”, explica o economista Eduardo Giannetti da Fonseca.
Isso ajudou a causar, segundo especialistas, grandes crises de opioides, de alcoolismo e de suicídio.
Os americanos ainda estão entre os mais ricos do mundo. Mas a quebra do contrato do sonho americano fez muita gente perder a esperança que as outras gerações tinham. Os americanos sempre acreditaram que poderiam se tornar Bob Atwell se quisessem: que começou sem nada, mas se formou em uma boa faculdade, comprou sua casa e, depois de trabalhar por 20 anos em um banco, juntou US$ 250 mil e, depois, se juntou a um sócio. Levantaram mais dinheiro e abriram seu próprio banco, que hoje tem ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York.
“Eu converso muito com os mais jovens. Eu os encorajo a não ter medo de que vão ter uma vida um pouco mais difícil do que eu tive. Trabalhe duro, seja humilde, seja bom para o seu vizinho, e você também terá uma vida de riqueza”, diz Bob Atwell.
Os americanos vivem uma crise de esperança.
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Fonte da Máteria: g1.globo.com