Presidente da Argentina fez discurso de cerca de meia-hora e criticou o que chamou de socialismo no continente. Ele não mencionou o nome de Lula em nenhum momento. O presidente da Argentina, Javier Milei, fez um discurso neste domingo (7) em um fórum conservador em Camboriú (SC). Essa foi a primeira viagem de Milei ao Brasil desde que ele foi eleito, no fim do ano passado. No entanto, não houve encontro entre e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que são adversários políticos.
Lula e Milei nunca se reuniram, apesar de Brasil e Argentina serem parceiros históricos na América do Sul. O encontro poderia ocorrer nesta semana, na reunião do Mercosul no Paraguai. Mas Milei optou por não ir. Preferiu o evento conservador em Santa Catarina, do qual participou também o ex-presidente Jair Bolsonaro, outro rival de Lula.
Em seu discurso no fórum, ao lado de políticos identificados como conservadores, Milei fez uma exposição de por que, na opinião dele, o socialismo prejudicou a América Latina nos últimos anos, em termos econômicos e sociais.
Ele citou nominalmente os governos dos ex-presidentes Nestor Kirchner e Cristina Kirchner na Argentina, de Hugo Chávez e Nicolas Maduro na Venezuela e de Evo Morales na Bolívia. Evitou citar o nome de Lula, apesar de já ter feito críticas ao presidente brasileiro em outras ocasiões.
“Porque o socialismo é a ideologia do ressentimento, da inveja e do ódio. Mas, acima de tudo, o socialismo, a ideia de fracasso. Ninguém sabe mais sobre isso do que nós, os irmãos latino-americanos. mas esse vento de mudança que começou na Argentina e hoje percorre o mundo chegará a todos os cantos onde os Libertados são reprimidos porque a história do ser humano é a história da liberdade e não há nada nem ninguém que possa detê-lo”, afirmou Milei.
“Vejam o que aconteceu na Venezuela, não há mais um único governo sensato no mundo que não reconheça que se trata de uma ditadura sangrenta. Vejam o que aconteceu na Bolívia em 2019, quando Evo Morales persistiu com um terceiro mandato”, disse mais adiante.
O evento
Camboriú recebeu neste fim de semana a quinta edição da Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC), versão brasileira do evento Conservative Political Action Conference, considerado o maior fórum conservador dos Estados Unidos.
A iniciativa, que ocorre entre este sábado (7) e o domingo (8), é o motivo da primeira visita do presidente da Argentina, Javier Milei, ao Brasil. Milei desistiu de participar da Cúpula do Mercosul, realizada em Assunção (Paraguai) na próxima segunda-feira (8), onde poderia encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela primeira vez. Mas é presença confirmada no evento em Santa Catarina.
O que é a CPAC?
O CPAC Brasil é realizado por iniciativa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e permite a participação apenas de “membros do Instituto Conservador-Liberal”. As inscrições terminaram em 31 de março, mas é possível pagar para acompanhar a transmissão virtual do evento.
Fundada em 1974, a CPAC é uma das maiores e mais influentes reuniões de conservadores nos Estados Unidos. O evento reúne políticos, ativistas, líderes de opinião, e membros do público interessados nas ideias conservadoras.
A conferência é conhecida por seus discursos, painéis de discussão, e eventos sociais que abordam uma ampla gama de tópicos, incluindo política, economia, direitos civis, e segurança nacional. Políticos de destaque, como presidentes, congressistas e outros líderes republicanos, frequentemente participam e discursam na CPAC, tornando-a uma plataforma importante para a promoção de agendas conservadoras e o debate de políticas públicas.
Nos últimos anos, a CPAC tem ganhado atenção por sua inclinação cada vez mais alinhada com as políticas e ideologias promovidas pelo ex-presidente Donald Trump, refletindo uma mudança no espectro político conservador nos Estados Unidos.
Palestrantes
Entre os palestrantes do evento estiveram alguns políticos conhecidos, como:
Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil;
Javier Milei, presidente da Argentina;
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal;
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal;
Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina;
Guilherme Derrite (PL-SP), ex-secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo;
Julia Zanatta, deputada federal (PL-SC);
Caroline de Toni, deputada federal (PL-SC).
Histórico do Evento no Brasil
O primeiro CPAC no Brasil foi realizado em outubro de 2019, no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo (SP). Dois anos depois, uma segunda edição foi realizada em Brasília. As outras duas edições ocorreram em 2022, em Campinas (SP) e em 2023, em Belo Horizonte (MG).
O evento é realizado pelo Instituto Conservador Liberal, instituição que existe “para contribuir com o estabelecimento de um Brasil firmemente apoiado nos valores da sua fundação e manifestados ao longo do nosso desenvolvimento”. “Por isso, lutamos pelo combate de toda e qualquer ideologia e pela promoção dos valores conservadores e liberais”, diz o texto de apresentação, apresentado no site oficial da entidade.
Visita de Milei
A primeira visita do presidente Argentino ao Brasil foi informada ao Itamaraty oficialmente nessa quinta-feira (4). Milei recusou qualquer apoio do governo federal. Pediu auxílio ao governo de Santa Catarina, do governador Jorginho Melo (um dos palestrantes do evento), que vai oferecer carros e escolta policial ao presidente argentino.
Ele desembarca em Santa Catarina na noite de sábado (6) e deve retornar a Buenos Aires no fim do dia de domingo (7), sem previsão de agendas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem mantém uma relação conflituosa.
Lula e Milei
Lula e Milei nunca se reuniram em um encontro bilateral, apesar de Brasil e Argentina serem os principais parceiros comerciais um do outro no continente. Eles estiveram juntos na cúpula do G7 na Itália, em junho, mas não se reuniram a sós.
Na última semana, Lula chegou a cobrar que Milei pedisse desculpas ao Brasil e a ele por ter falado “muita bobagem”.
A presença de Milei no fórum conservador contrasta com a ausência prevista do presidente da Argentina em outro evento: a Cúpula do Mercosul, marcada para a próxima segunda-feira (8) em Assunção, no Paraguai. Em seu lugar, a Argentina será representada pela chanceler Diana Mondino.
Nessa quarta-feira (3), o Itamaraty afirmou que a ausência do chefe de Estado argentino é “lamentável”, mas não esvazia o encontro. Segundo o órgão, esta será a primeira vez que um país-membro não é representado pelo presidente em uma reunião de cúpula do bloco.
O ex-presidente Jair Bolsonaro não participou do encontro presencialmente em 2022, mas se dirigiu aos demais chefes de Estado por meio de um vídeo.
A decisão de Milei de faltar ao encontro também ocorre dias após um post nas redes sociais em que o argentino voltou a criticar o presidente Lula, chamando o petista de “corrupto”.
Fonte da Máteria: g1.globo.com