Escritor foi preso durante o golpe militar, em 1974, e torturado por duas semanas. Neste domingo, ele recuperou um texto que narra momentos de terror e explicou a decisão de não querer saber detalhes. Paulo Coelho em dezembro de 2014, em entrevista em sua casa da Suíça.
AP Photo/Boris Heger
O escritor Paulo Coelho utilizou sua conta no X (antigo Twitter) neste domingo (21) para relembrar o momento de sua prisão durante o golpe militar, em 1974, e voltou a declarar que não quis descobrir quem fez a denúncia que o levou a ser torturado por semanas.
Na publicação, o autor narrou momentos de terror.
… Sou retirado e espancado enquanto ando por aquilo que parece ser um corredor. Grito, mas sei que ninguém está ouvindo, porque eles também estão gritando. ‘Está lutando contra seu país. Vai morrer devagar, mas antes vai sofrer muito’.
Em outra passagem do texto, Paulo conta que teve a oportunidade de descobrir o nome da pessoa que o denunciou aos militares, mas decidiu não saber, e justificou:
“Décadas depois, os arquivos da ditadura são abertos e meu biógrafo consegue todo o material. Pergunto por que fui preso: ‘uma denúncia’, ele diz. ‘Quer saber quem o denunciou?’ Não quero. Não vai mudar o passado.”
O relato foi publicado originalmente em março de 2019 pelo The Washington Post como um artigo de opinião assinado pelo escritor, na forma de uma crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na ocasião, o então presidente havia determinado que o dia 31 de março, que marcava o início do golpe militar em 1964, passasse a ser celebrado oficialmente pelo Ministério da Defesa em comemoração ao golpe.
Apesar de não falar deste acontecimento na publicação feita neste domingo, Paulo Coelho chegou a citar a decisão presidencial na versão original de seu texto.
“E são essas décadas de chumbo que o Presidente Jair Bolsonaro – depois de mencionar no Congresso um dos piores torturadores como seu ídolo – quer festejar nesse dia 31 de março”, escreveu ele.
Paulo Coelho foi preso em 28 de maio de 1974 e foi torturado por duas semanas antes de ser solto.
Em 1988, ele publicou a famosa obra “O Alquimista”, que virou num best-seller.
Além da literatura, o escritor já trabalhou como diretor de teatro, jornalista e compositor. Como compositor, já escreveu canções para consagrados cantores brasileiros, como Elis Regina, Rita Lee e Raul Seixas.
Desde 2002, Paulo ocupa a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras. E se tornou, assim, um imortal.
Neste ano, o presidente Luis Inácio Lula da Silva acordou com as forças armadas que o marco pelo início do golpe não seria mais celebrado.
Atualmente com 76 anos, o autor carioca mora na Suíça com a esposa Christina Oiticica. Em maio deste ano, ele se encontrou com Lula em um evento comemorativo pelos 35 anos do livro ‘O Alquimista’.
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Fonte da Máteria: g1.globo.com