Presidente do grupo LVMH, dono de grifes como Louis Vuitton e Moët & Chandon, sofre com queda no consumo dos ricaços chineses, que tem afetado o desempenho das marcas. O empresário francês, fundador, presidente e CEO da LVMH, Bernard Arnault, chega para participar da cerimônia de abertura da 142ª Sessão do COI, quatro dias antes da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024, na fundação Louis-Vuitton, em Paris, em 22 de julho de 2024.
Fabrice Coffrini/AFP
O francês Bernard Arnault, que em abril deste ano era a pessoa mais rica do mundo, segundo o ranking da revista Forbes, perdeu US$ 10,3 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões) de sua fortuna em um dia, depois de o Grupo LVMH — do qual ele é o dono — apresentar resultados ruins nesta terça-feira (15).
Agora, seu patrimônio é estimado em US$ 167,2 bilhões (R$ 945 bilhões), com base no fechamento do último pregão. Embora seja um valor estrondoso, representa uma queda de 28,25% na fortuna do bilionário em poucos meses.
Agora ele é “apenas” o 5º lugar na lista de pessoas mais ricas do mundo, atrás de Elon Musk, Larry Ellison, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg. (veja a lista completa no fim desta reportagem)
A LVMH é dona de algumas das principais marcas de luxo do mundo (como Louis Vuitton, Dior Fendi e Moët & Chandon), e teve uma queda de mais de 3% em sua receita nos nove primeiros meses de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado. A baixa é mais expressiva, de 4,5%, olhando apenas para a receita dos terceiros trimestres.
O faturamento foi de 60,75 bilhões de euros em nove meses, contra 62,21 bilhões de euros no mesmo intervalo de 2023. O terceiro trimestre registrou pouco mais de 19 bilhões contra quase 20 bilhões no período do ano passado.
Os resultados piores têm motivo: a mudança nos padrões de consumo na China. A Ásia é o principal mercado consumidor de artigos de luxo. A China é o principal motor, com a maior população do mundo e o segundo em número de bilionários, atrás apenas dos Estados Unidos.
Nos nove primeiros meses de 2023, a Ásia (excluindo o Japão) respondeu por 32% de toda a receita da LVMH. Já no mesmo período deste ano, a participação asiática caiu para 29%.
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Movimentos semelhantes foram reportados por outras varejistas de luxo nos últimos meses, que destacam a queda na demanda asiática e, mais especificamente, chinesa.
O país asiático, como um todo, passa por um momento de redução do consumo e de dificuldades em continuar crescendo a altos números. No segundo trimestre, a economia chinesa desacelerou de uma base anual de 5,3% para 4,7%, abaixo dos 5,1% esperados pelo mercado.
O país enfrenta uma crise imobiliária importante desde a quebra da incorporadora Evergrande e vê um mercado de trabalho desaquecido, com alta nas taxas de desemprego (hoje em 5,3%), principalmente entre os jovens.
Esse cenário gera insegurança entre os consumidores chineses, que estão priorizando poupar do que gastar — impactando varejistas, inclusive as de luxo.
“Nos últimos anos ficaram comuns as fotos e vídeos de consumidores chineses fazendo filas para comprar em lojas de grifes. Mas, com a desconfiança de como será a economia daqui para a frente, muitos estão freando os gastos”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
💵 Fortalecimento do dólar e taxas de juros altas
Além do enfraquecimento da demanda asiática, o preço do dólar e os juros também impactam os negócios.
Considerada a moeda mais segura do mundo, o dólar ganhou vantagem sobre outras moedas nos últimos anos em meio às incertezas econômicas trazidas pela pandemia, e as guerras da Ucrânia e no Oriente Médio.
Investidores globais levaram os recursos para os Estados Unidos a partir de março de 2022, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) iniciou um ciclo de altas nas taxas de juros dos EUA.
Quando os juros sobem nos Estados Unidos, a rentabilidade dos títulos públicos do país (as Treasuries, consideradas os ativos mais seguros do mundo) também avançam e se tornam mais atrativas para os investidores.
Esse movimento deu força à moeda americana, e ajudou a encarecer os produtos de luxo para consumidores de países com outras moedas mais desvalorizadas, como China e Brasil, por exemplo.
Outros países também elevaram seus juros na mesma época, como aqueles que fazem parte da União Europeia, outro importante polo de consumidores das marcas de luxo.
Embora a parcela super-rica dos clientes de marcas de luxo consiga manter seu poder de compra qualquer que seja o momento econômico, Gustavo Cruz reforça que o público de compras esporádicas precisa escolher o que vai consumir quando há um aperto nas condições financeiras.
“No pós-pandemia, em 2021, 2022, a gente viu uma espécie de ‘consumo por vingança’. As pessoas ficaram muito tempo sem poder comprar e sentiam que mereciam aqueles luxos, comprar coisas com o que economizaram ou ganharam no período”, comenta.
Essa equação que soma o custo do crédito elevado, um dólar mais caro e os aumentos nos preços promovidos pelas grifes tradicionais contribuiu também para uma procura por novas marcas de luxo, mais desconhecidas e com preços mais atrativos, mas ainda com produtos diferenciados.
Por fim, mercados que são grandes consumidores de luxo, como China, também passaram a produzir seus próprios produtos de alto padrão, como a Ms Min, o que aumenta a concorrência.
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Prejuízos para os bilionários do setor de luxo
Em abril deste ano, o ranking anual de bilionários da revista Forbes mostrou que a pessoa mais rica do mundo era o francês Bernard Arnault, presidente do grupo LVMH. Na época da publicação, a fortuna dele era estimada em US$ 233 bilhões (cerca de R$ 1,32 trilhão, na atual cotação do dólar).
Poucos meses depois, no entanto, o bilionário não apenas deixou de ser o mais rico do mundo como caiu da primeira para a quinta posição do ranking, com uma perda de US$ 65,8 bilhões (R$ 372 bilhões) em seu patrimônio.
Até esta terça-feira (15), a fortuna de Arnault era estimada em US$ 167,2 bilhões (R$ 945 bilhões), uma queda de 28,25% em relação ao início do ano. Essa baixa acompanha a desvalorização de cerca de 18% nas ações da LVMH em 2024 até agora.
E essa não é a única companhia do segmento de luxo que vem sofrendo em 2024 com a fraca demanda chinesa, principalmente. Veja o desempenho das ações de outras empresas do setor neste ano:
Burberry: queda de 53%
Kering (controladora de marcas como Gucci e Balenciaga): queda de 42%
Christian Dior SE: queda de 18%
Setor deve se recuperar
O varejo de luxo é visto por especialistas do mundo inteiro como um setor bastante resiliente às oscilações trazidas pelos ciclos econômicos, justamente por ter como principal público os super-ricos.
Gustavo Cruz explica que esse público tende a mudar de maneira bem menos intensa os seus padrões de consumo do que pessoas de classe baixa e classe média.
Assim, apesar dos desafios atuais, especialistas ouvidos pelo g1 concordam que as marcas de luxo devem se recuperar, e voltar a mostrar um bom crescimento em vendas e no desempenho das ações. E esse avanço deve contribuir para que o patrimônio dos seus donos e herdeiros volte a aumentar.
“O setor como um todo pode estar passando por um período de turbulência, mas empresas sólidas como essas tendem a se recuperar à medida que as condições de mercado melhoram”, pontua Thiago Kurth Guedes, diretor de desenvolvimento de negócios da Bridgewise.
A recuperação deve ser puxada, inclusive, pela melhora dos dois fatores que contribuíram para a queda: a China e os juros.
No mês passado, o Banco Central da China anunciou um pacote de medidas sem precedentes para estimular a economia do país, com o objetivo de fomentar o consumo entre a população.
As medidas envolvem cortes nas taxas de juros, corte nas taxas de depósito compulsório dos bancos (que permite mais empréstimos), redução de juros de hipotecas já existentes e na entrada mínima para compra de imóveis e estímulos ao mercado de ações.
Com os juros menores e melhora nas condições, o mercado espera que a China consiga voltar a aquecer a economia e, como consequência, a demanda pelos produtos queridinhos dos chineses deve aumentar — o que inclui, por óbvio, o mercado de luxo.
E os juros também começaram a cair em outras partes do mundo. O destaque vai para os Estados Unidos. No dia 18, o Fed reduziu suas taxas em 0,50 ponto percentual, para um patamar entre 4,75% e 5%. O mercado projeta novos cortes nos próximos meses.
“Uma abordagem de longo prazo e uma avaliação cuidadosa dos fundamentos continuam sendo cruciais para investidores nesse setor volátil, mas promissor”, conclui Kurth Guedes.
Os 10 mais ricos do mundo, segundo a Forbes
Elon Musk, com US$ 247,7 bilhões
Larry Ellison, com US$ 208,8 bilhões
Jeff Bezos, com US$ 205,3 bilhões
Mark Zuckerberg, com US$ 199,9 bilhões
Bernard Arnault, com US$ 167,2 bilhões
Warren Buffett, com US$ 146,2 bilhões
Larry Page, com US$ 137,8 bilhões
Amancio Ortega, com US$ 133,5 bilhões
Sergey Brin, com US$ 132,0 bilhões
Steve Ballmer, com US$ 121,6 bilhões
Fonte da Máteria: g1.globo.com