Em conversa exclusiva, cantor americano falou da necessidade em renovar o gênero com letras mais maduras e a preocupação em manter ‘pés no chão’ mesmo com o sucesso: ‘Ganho dinheiro, mas não dirijo Ferrari’. Cody Johnson conversa com o g1 com exclusividade
O ar descolado, a idade e as tatuagens até as mãos podem, em um primeiro momento, o afastar do padrão que foi estabelecido para o “cowboy”. Os primeiros segundos de conversa, no entanto, desmoronam o estereótipo. As falas contundentes, a paixão pela vida no campo, o sotaque do Texas e a convicção pela arte que produz evidenciam logo que, ali à frente, está uma estrela da música country dos Estados Unidos.
Aos 37 anos e com 7,5 bilhões de streamings globais, Cody Johnson tomou para si a renovação de um dos gêneros musicais mais ouvidos no país norte-americano. Guardião do legado de lendas como Alan Jackson e Reba McEntire, o cantor terá, no mês que vem, uma experiência inédita – ainda que os 15 anos de carreira já não proporcionem tantos ineditismos assim. Ele viaja ao Brasil pela primeira vez para se apresentar no maior rodeio da América Latina, a Festa do Peão de Barretos.
O astro conversou com o g1 com exclusividade e, além de reforçar a expectativa pela estreia no país – que o fez até ouvir Chitãozinho e Xororó pela 1ª vez depois de saber que iam tocar no mesmo dia – também falou do início da trajetória, quando chegou a ser peão de rodeio, a responsabilidade de dar um tom menos machista e mais romântico ao country, e a preocupação em manter os pés no chão mesmo com o sucesso.
[Essa idolatria] é uma loucura porque eu levo uma vida tão simples. Eu ganho muito dinheiro. Mas você não me vê por aí dirigindo uma Ferrari. Eu sou uma pessoa muito simples. Então, muitas vezes eu me surpreendo porque vamos a esses grandes locais e as pessoas estão chorando, tremendo e elas estão tão envolvidas. Eles dizem: você é uma lenda, você é uma lenda, e eu digo: legal. Eu tenho muita humildade.”
Assista à entrevista no vídeo acima, com direito a uma mensagem aos fãs brasileiros, e conheça mais, abaixo, sobre quem é sobre um dos astros da música americana.
Antes peão, agora laçador
Do caminhão ao topo
Não falar de mulheres como objetos
Renascimento do country
A primeira viagem ao Brasil
Cody Johnson
Chris Douglas
Antes peão, agora laçador
Cody Johnson nasceu em Sebastopol, no Texas, estado que é um dos berços do country nos Estados Unidos. Após crescer imerso em um meio rural, o artista se apaixonou por este universo e, antes de se tornar cantor e compositor, foi peão profissional de rodeio. Apesar de ter se tornado uma estrela da música, as referências e lembranças deste período seguem ditando seu estilo de vida.
Ao ser perguntado sobre a época que foi peão, o gesto foi mais expressivo que qualquer palavra. Cody apontou para uma estante que tem em sua casa no Texas e mostrou todos os prêmios que recebeu quando era atleta. Entretanto, mesmo tendo interrompido a montaria, ele não deixou os rodeios: se tornou laçador, atividade que considera que exerce muito melhor do que montar em touros.
“Os caras com quem eu montava touros eram muito melhores do que eu. Eles eram atletas fenomenais. Eu tinha toda a determinação, todo o coração e toda a garra, mas eu simplesmente não tinha aquilo. Eu não tinha o que eles tinham. Então, eu sabia que montar touros provavelmente não seria algo que duraria muito tempo para mim. Agora faço laço em equipe. Sou um laçador de equipe, treinador de cavalos e criador de gado. E sou um laçador de equipe muito bom” Sou muito melhor no laço em equipe do que jamais fui montando touros”, afirmou.
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Ao conciliar, em paralelo, as atividades como músico e laçador, e usando o benefício de ter se tornado uma estrela do country, Cody consegue se manter próximo dos ídolos que tem neste segmento dos rodeios.
“Eu cresci admirando caras como Tuff Hedeman, como peão de rodeio. E como cowboys como Joe Beaver e Trevor Brazile. E agora, um dos meus melhores amigos no mundo, Colpor, é campeão mundial de laço em equipe e treinador de cavalos campeão. E é tão legal porque eu queria estar nesse mundo como atleta de rodeio por causa da minha música e de viver o estilo de vida de cowboy, agora sou amigo de todos os meus heróis”, disse.
Do caminhão ao topo
Agora dono de hits poderosos como “‘Till You Can’t”, “Me and my Kind”, “Human” e “Diamond in My Pocket”, Cody Johnson também teve a versão do artista desacreditado que sofreu no início. A caminhada na música começou quando estava no Ensino Médio e um professor de agricultura enxergou um talento diferente quando o viu tocando violão e cantando.
Incentivado pelo mentor, ele montou uma banda, se apresentou no festival de talentos da escola e começou uma luta que durou dez anos até o estouro. À época, ele fazia tudo por conta própria, inclusive o investimento para a gravação do primeiro álbum, que não teve sucesso.
“Começamos com um caminhão e um pequeno reboque U-Haul e tocávamos em barzinhos onde ninguém se importava. Ninguém queria ouvir. E nós simplesmente tocávamos assim mesmo por anos e anos. E quanto mais eu trabalhava, sabe, o público começava a crescer. Eu gravei um álbum e foi um álbum horrível, sem produção, sem dinheiro. Mas as pessoas compraram e foi crescendo, crescendo e crescendo. Então, eu fiz isso sozinho. Eu simplesmente não ia aceitar um não como resposta. Vou trabalhar e vou tocar minha música. E um dia vai dar certo. E finalmente deu”, revelou.
Também por conta das dificuldades que passou e ter vivido muito tempo como desconhecido, o artista mantém a preocupação para que o sucesso não suba à cabeça. “Entendo que tenho esse status [de ídolo]. E é muito importante para mim não deixar isso subir a minha cabeça e ser um bom exemplo de como alguém deve se portar nessa posição”, pontuou.
Não falar de mulheres como objetos
A renovação que Cody comanda na música country passa muito pelo tom de suas letras – já que também compõe a maioria de suas canções. O último álbum, “Leather”, lançado em 2023, que já revelou sucessos como “The Painter” e “Dirt Cheap”, fala de amor verdadeiro, vida do homem do campo, integridade, entre outros assuntos não tão comuns no gênero.
O americano Cody Johnson, cantor de country, fará show na Festa do Peão de Barretos em 2024
Reprodução/Facebook
A ideia é evitar temas recorrentes, mas que ainda têm abordagens desrespeitosas com algumas representações da sociedade, como a mulher, por exemplo.
“Eu poderia até falar sobre o hip-hop. O hip-hop por muito tempo tem sido muito desrespeitoso com as mulheres, na minha opinião. Fala sobre mulheres como se fossem objetos em vez de pessoas. E isso se espalhou para a música country, onde é:, ei, garota, vem com esses shorts curtos e entre na minha caminhonete 4×4, vou beber umas cervejas e te levar para casa. Que tal realmente falar sobre uma mulher? O que ela realmente faz? Acho que os mais jovens precisam ouvir esses assuntos porque poucas pessoas falam sobre isso e isso tem o potencial de mudar nossa juventude e a cultura em todo o mundo”, explicou.
Renascimento do country
A preocupação que Cody Johnson tem de cuidar para que o country não fique ultrapassado passa pelo entusiasmo em ver grandes fenômenos da música mundial, como Beyoncé e Post Malone, se aventurando pelo gênero. Para ele, essas convergências fazem com que o público se renove e os fãs destes artistas que nunca teriam contato com as canções dele passem a ter.
Eu acho que pessoas como Post Malone ou Beyoncé podem fazer o que quiserem porque, se você falar Post Malone, ele é global. Taylor Swift começou na música country, mas se tornou um fenômeno tão global que não pertence a nenhum gênero específico. Seu gênero é Taylor Swift. Ela pode tocar o que quiser. E por causa disso, fãs que eram fãs deles talvez venham para a música country agora e digam: estou ouvindo country, quem é Cody Johnson?
A primeira viagem ao Brasil
Cody Johnson se apresenta na Festa do Peão de Barretos no dia 24 de agosto em uma noite que o palco principal também terá Hugo e Guilherme e Chitãozinho e Xororó – uma das maiores e mais influentes duplas da história da música sertaneja. O cantor afirmou que não conhecia a lendária dupla brasileira, mas, ao saber que iriam tocar no mesmo dia, foi atrás de escutar.
“É muito difícil para mim pronunciar os nomes. Então, não quero ser desrespeitoso. Mas sinto que a música é muito parecida com a minha. Agora, os instrumentos são um pouco diferentes. Talvez o ritmo seja um pouco diferente. Mas a sensação que me causa é a mesma. Para mim, parece muito universal. Eu sou realmente country, mas tenho esse lado festivo”, contou.
O músico conversou com alguns peões de rodeio com quem tem contato nos Estados Unidos, o que o deixou animado para acompanhar as provas de montaria ou, quem sabe, até se arriscar no laço na Arena de Barretos.
“Eu laçei com o Júnior Nogueira há alguns meses e ele disse: ah, você vai? Cara, prepare-se. Ele disse que é uma grande festa, um grande rodeio. Ele disse que é diferente de qualquer rodeio nos Estados Unidos. Então isso meio que me empolgou. Ainda estou tentando descobrir se consigo participar do rodeio. Eu preciso de um parceiro para a laçada em dupla”, brincou.
O americano Cody Jhonson, cantor de country, fará show na Festa do Peão de Barretos em 2024
Reprodução/Cody Johnson
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Fonte da Máteria: g1.globo.com