
Concerto e eventos celebram em São Paulo o centenário da artista associada à viola, à música caipira e ao canto de temas do folclore nacional. Inezita Barroso (1925 – 2015) nasceu há 100 anos e morreu há uma década, quando acabara de completar 90 anos
Acervo pessoal Inezita Barroso
♫ MEMÓRIA
♪ Voz referencial no universo da música regional do Brasil interiorano, calada há 10 anos em decorrência de insuficiência respiratória, a paulistana Ignez Magdalena Aranha de Lima (4 de março de 1925 – 8 de março de 2015) deixou obra que extrapola o arco caipira das toadas e modas de viola.
Nascida e criada em família de posses, dentro de universo urbano, Maria Ignez se fez senhora do próprio destino ao escapar da redoma familiar e ao se tornar Inezita Barroso, cantora paulista que deu voz a temas do folclore nacional e a músicas identificadas com culturas regionais específicas, incluindo o cancioneiro da face mais caipira do universo sertanejo.
Além de cantora, a artista também foi instrumentista (sabia tocar piano, violão e a viola da qual nunca se dissociou), arranjadora, folclorista e apresentadora de TV.
Hoje, 4 de março de 2025, terça-feira de Carnaval, faz 100 anos que Inezita veio ao mundo. O centenário de nascimento da artista será celebrado com shows e eventos programados ao longo deste mês de março em São Paulo (SP).
De 7 a 30 de março, o Sesc 24 de maio apresenta a segunda edição do projeto Viva viola! com atividades em torno da viola que englobam música, dança, leitura e brincadeiras. Às 17h de domingo, 9 de março, a Orquestra Jazz Sinfônica apresenta concerto em tributo ao centenário de nascimento Inezita, no Teatro Franco Zampari, tendo a dupla Célia & Celma como convidada, além das participações dos cantores Raimundo Fagner, Tetê Espíndola e Adriana Farias.
Inezita morreu há uma década, em março de 2015, mas permanece no imaginário musical nacional como uma das maiores referências dos gêneros musicais de um Brasil regional que resiste em nichos, ainda que já impossibilitado de ficar completamente imune aos processos de urbanização e modernização dos sons locais.
Iniciada nos anos 1940, no rádio, a trajetória artística de Inezita Barroso ficou primordialmente associada à música sertaneja de raiz, tocada na viola que batizava o programa Viola, minha viola, apresentado pela cantora na TV Cultura nos últimos 35 anos de vida da artista.
Contudo, o fato é que a discografia da cantora – iniciada com o single de 78 rotações por minuto editado em 1951 pela gravadora Sinter com as músicas Funeral dum rei nagô (Hekel Tavares e Murilo Araújo) e Curupira (tema popular recolhido e adaptado por Waldemar Henrique) – foi muito além desse sertanejo vintage.
A obra fonográfica de Inezita Barroso inclui canções do folclore mineiro, temas da música tradicional gaúcha, sambas de cadência carioca, modinhas evocativas dos tempos imperiais, gêneros nordestinos como o boi-bumbá maranhense e, claro, as modas de viola. É um repertório essencial e orgulhosamente nacionalista.
A intérprete da Moda da pinga (Laureano, 1953) bebeu de todas as fontes do chamado Brasil profundo. O Brasil caboclo. Esse Brasil resistiu no canto grave de Inezita Barroso, cujo suprassumo da discografia é formado pelos álbuns Inezita Barroso (1955), Lá vem o Brasil (1956), Vamos falar de Brasil (1958), Inezita apresenta (1958), Canto da saudade (1959), Eu me agarro na viola… Inezita sua viola e seu violão (1960) e Inezita Barroso interpreta danças gaúchas (1961), editados entre 1955 e 1961 pela gravadora Copacabana.
Enfim, o Brasil de Inezita Barroso pode até já soar folclórico, como longeva referência de tempo ido, mas ainda pulsa no canto de quem nunca se curvou aos modismos urbanos.
Fonte da Máteria: g1.globo.com