Durante sabatina em evento da Abraji nesta sexta-feira (12), ministro da Fazenda defendeu a melhora da atividade e disse que há ‘descolamento’ entre avaliação da economia e indicadores econômicos. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa de reunião do Conselho da Federação.
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (12) que o mercado financeiro é enviesado e que tende a dar notas piores para a economia durante governos progressistas.
“Estou falando de como o mercado reage aos mesmos indicadores. Um país que tem o mesmo indicador [desempenho] que o outro. Por que um recebe nota menor e outro maior, se é o mesmo indicador?”, questionou.
“Tem viés. […] Então temos que corrigir isso para que nós tenhamos uma sociedade melhor. E isso vale para tudo. Quando você estigmatiza, sempre é ruim. […] Você tem que se basear no que você tá vendo para combater esse tipo de viés”, acrescentou o ministro.
Haddad ainda citou como exemplo a avaliação feita pelas três principais agências de classificação de risco do mundo, a Moody’s, a S&P e a Fitch Ratings, sobre o Brasil.
Segundo o ministro, as três agências teriam confirmado a ele que, pelas métricas utilizadas por seus modelos de classificação de risco, o Brasil teria grau de investimento. “Mas eles diminuem a nota brasileira em função de percepções subjetivas”.
Haddad ainda relembrou o mau-humor visto nos mercados que fez o dólar disparar no passado recente, afirmando que essa movimentação também não acompanhava a melhora dos indicadores econômicos.
“Tinha um ‘diz-que-me-diz’ no mercado mesmo, e eu estava incomodado porque eu não estava vendo aderência aos indicadores brasileiros”, afirmou o ministro.
Já em relação à má avaliação da economia feita pela população, Haddad afirmou que há uma grande desinformação e um trabalho ativo de defensores da oposição para “minar a credibilidade” dos dados econômicos.
“O que eu vejo nas redes é muito sério porque não bate com a realidade. […] Então tem aí um desafio comunicacional que não é fácil de superar. […] Temos uma oposição hoje que realmente atua para minar a credibilidade das instituições e do Estado brasileiro, e eles atuam diuturnamente nas redes sociais”, acrescentou o ministro.
Nesta semana, uma pesquisa Quaest indicou que a porcentagem de pessoas com a percepção de que a economia brasileira piorou nos últimos 12 meses ainda é maior entre aqueles que ganham a partir de dois salários mínimos.
De acordo com a pesquisa, para aqueles que ganham entre 2 e 5 salários mínimos, 39% acreditam que a economia piorou nos últimos 12 meses. Entre os que ganham acima de cinco salários mínimos, esse percentual sobe para 44%.
Herança fiscal
O ministro da Fazenda ainda reiterou a necessidade de ajustar o quadro fiscal do país, afirmando que ainda há “muita conta para pagar” deixada pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL).
“O Brasil, do ponto de vista fiscal, viveu duas pandemias. A pandemia propriamente dita e a eleição de 2022, que teve calote, passaram a mão no dinheiro dos governadores, abriram cofres para distribuir benefício … é uma confusão fiscal que nós vamos ter trabalho para pôr em ordem”, afirmou o ministro.
Haddad citou a renegociação que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisou fazer no ano passado para pagar aproximadamente R$ 27 bilhões aos estados, em função da perda de arrecadação com o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de combustíveis.
“[O governo anterior] baixou artificialmente a inflação em 2022, baixando o preço da gasolina com o dinheiro dos estados. […] Fora o calote dos precatórios, que é outra conta. São muitas contas que estão sendo pagas”, acrescentou.
O ministro da Fazenda ainda disse que o governo precisa se acertar com o Senado para concluírem a repactuação da dívida dos estados.
Nesta semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou seu projeto de renegociação sem reduzir o valor das dívidas, mas zerando o pagamento dos juros.
“O presidente [do Senado] Pacheco apresentou um texto diferente do [texto] apresentado pela Fazenda, com parâmetros que efetivamente destoam daquilo que nós imaginávamos. […] Nós combinamos de tentar junto ao relator para ajustar o texto”, afirmou Haddad.
“Precisamos fazer um jogo que acomode as contas estaduais sem prejudicar as contas nacionais. Esse é o meu ponto de vista. E o meu entendimento é que o projeto apresentado precisa passar por uma revisão”, completou.
Por fim, o ministro ainda afirmou que expansão fiscal não é algo positivo para o Brasil neste momento e reiterou que a intenção do presidente Lula de cortar gastos se necessário.
Reforma tributária
Haddad ainda afirmou estar confiante na aprovação da reforma tributária e que a Fazenda enviou, em seu texto, o que era “tecnicamente mais responsável”.
Na última quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária.
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“Em todos os discursos que eu fiz, eu disse que toda exceção acaba prejudicando de alguma maneira a reforma tributária, porque a alíquota padrão vai subindo”, disse o ministro.
Para ele, existem três estratégias que podem diminuir a alíquota padrão na reforma tributária, atualmente projetada em 26,5%.
“A primeira é não ter exceção nenhuma. Nesse caso, a alíquota padrão seria 21%. A segunda é combater a sonegação, digitalizando o sistema, tornando mais transparente e fazendo um IVA [Imposto sobre Valor Agregado] não cumulativo. […] E a terceira é aumentar o imposto sobre a renda, que é uma coisa que está na mão do Congresso para fazer nos próximos dois anos”, disse.
Sobre o debate envolvendo a lista de alimentos que devem compor a cesta básica desonerada na reforma tributária, Haddad afirmou que o ministro da Fazenda sempre é “derrotado ou parcialmente derrotado”.
“A gente tenta fazer o mais justo possível, mas aqui, a camada que se sente injustiçada no Brasil são os mais ricos”, disse o ministro.
“Os pobrezinhos estão lá, com seu fundinho fora do país em paraíso fiscal, e vem o ministro da Fazenda querer cobrar imposto de renda?!” questionou, com ironia.
“Ou a gente enfrenta esse país de uma vez por todas ou vamos ver injustiça na rua o dia inteiro. Queremos corrigir essas distorções, […] mas não é fácil. É muito difícil você negociar com quem está mal costumado […] que é a elite desse país”, concluiu o ministro.
Fonte da Máteria: g1.globo.com