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Kamala Harris coloca Donald Trump na defensiva


Candidato republicano foi desmentido por apresentadores e repetiu discursos voltados a seu eleitorado tradicional. Candidatos, que nunca se encontraram ao vivo, fizeram primeiro enfrentamento com tom agressivo. Por diferença de alturas, púlpito de Kamala Harris é menor que o de Trump. Candidatos fizeram debate em 10 de setembro de 2024.
REUTERS/Brian Snyder
Quando os temas de Israel e da guerra em Gaza foram colocado no debate, as atenções voltaram para
O primeiro debate entre Donald Trump e Kamala Harris, na noite desta terça-feira (11), foi marcado por troca de acusações entre as gestões alheias em temas centrais da corrida à Casa Branca como economia, aborto, guerras e imigração.
Em pouco mais de 90 minutos, a candidata democrata adotou tom assertivo e colocou o adversário na defensiva. O enfrentamento, realizado pela rede de TV ABC na Filadélfia, foi também o primeiro encontro entre o republicano e a democrata, que nunca haviam ficado frente em frente ao vivo.
Em tom mais agressivo e muito expressiva, Kamala Harris investiu em ataques a Trump e evocou seu passado como procuradora-geral, despistando as dúvidas sobre se conseguiria lidar com acusações de Trump em respostas rápidas e sem apoio de sua equipe e de anotações, que não puderam entrar no auditório do debate.
ASSISTA: Veja ao vivo o debate presidencial dos EUA
AO VIVO: Acompanhe as últimas atualizações sobre o debate entre Kamala e Trump
A atual vice-presidente dos EUA disse ter passado os quatro últimos anos “limpando a bagunça de Donald Trump”, acusou o ex-presidente de deixar o governo com altas taxas de desemprego e criticou sua gestão da pandemia, em 2019, quando era presidente dos EUA.
Foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre aborto. Disse que seu adversário vai liderar um “plano nacional para banir o direito ao aborto”, o que Trump, menos assertivo no tema, negou.
Apesar de começar o debate repetindo o tom mais calmo que adotou no debate contra o presidente Joe Biden, em junho, Donald Trump também foi se tornando mais agressivo em reação às provocações constantes da adversária.
No entanto, o republicano insistiu em discursos voltados ao seu eleitorado, como o de que o país está sendo “invadido” por criminosos de outros países. Em cinco ocasiões diferentes, repetiu o discurso anti-imigração, desvirtuando de outros temas. Chegou a dizer que imigrantes estão comendo cachorros de norte-americanos e foi desmentido pelos apresentadores.
O ex-presidente vem culpando Kamala, a quem o presidente Joe Biden designou parte da gestão da política migratória, pelos recordes de entrada de imigrantes ilegais registrados nos EUA desde o fim do ano passado.
Ele também acusou a adversária de “querer fazer operações transgênero pelo país”, a chamou de “marxista” e disse que os EUA se tornarão “uma Venezuela com anabolizante” caso a adversária vença.
Trump também tentou, ao longo do debate, atrelar a candidata democrata a Joe Biden, tentando tirar proveito do mau desempenho do presidente. “Ela é Biden. Ela está querendo se afastar de Biden, mas ela é Biden”, disse.
“Claramente, eu não sou Biden, e certamente não sou Donald Trump”, retrucou Kamala Harris. Estou querendo oferecer uma nova geração de líderes aos americanos”.
Para Kamala Harris, o debate foi a primeira e, talvez, única oportunidade de se apresentar para o público geral e de tentar fazer chegar ao eleitorado de Trump o discurso de que seu rival, um bilionário, só governará para si mesmo, enquanto ela, uma ex-procuradora-geral, seguirá pensando no povo.
Ao responder à primeira pergunta, sobre economia, ela disse que “vim da classe média e seguirei governando para a classe média”, enquanto Trump “governará para ele mesmo”. “Meus valores não mudaram”, afirmou.
No entanto, a democrata se esquivou ao ser questionada por um dos dois mediadores sobre se a oconomia do país estava melhor agora do que há quatro anos, quando o governo do qual ela faz parte assumiu, e disse apenas que reduzirá taxas para a compra de imóveis.
Guerra em Gaza e na Ucrânia
Quando os temas de Israel e da guerra em Gaza foram colocados no debate, as atenções voltaram para Kamala Harris — seus comícios têm sido alvo de protestos pró-Palestina por conta do apoio que o governo de Joe Biden tem dado a Israel desde o início do conflito.
Em uma fala repetida e sem riscos, a democrata disse apoiar o direito de defesa de Israel mas achar que “vidas inocentes demais foram pedidas em Gaza”, e, por isso, defende o acordo de cessar-fogo e a solução de dois Estados.
Trump foi mais enfático ao falar sobre o tema: “Se eu fosse presidente, a guerra nunca teria começado. Se eu fosse presidente, a Rússia nunca teria invadido a Ucrânia. Eu conheço o Vladimir Putin muito bem”.
Ele também acusou Harris de “odiar Israel e a população árabe”. Aproveitando o gancho aberto pelo próprio adversário ao mencionar Putin, a democrata disse que “é sabido que ele admira ditadores”.
Sobre o conflito na Ucrânia, Trump disse que tem “um bom relacionamento” tanto com Putin quanto com presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky e prometeu que dará um fim à guerra caso seja eleito. Já Biden, afirmou o republicano, não tem boa relação com nenhum dos dois.
“Deixe eu te lembrar que você não está concorrendo com o Joe Biden. Você está concorrendo comigo”, retrucou Kamala Harris, que defendeu a atuação da gestão de Biden na guerra da Ucrânia. “Se não fosse ele, Putin estaria sentado na Europa”.
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Antes do debate, especialistas estimaram que o cara a cara deveria ocorrer sem grandes riscos de ambos os lados, por conta da disputa apertada entre os dois — que aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto (leia mais abaixo).
A expectativa é que Kamala não foque sua narrativa nas questões de raça e gênero e use habilidades oratórias que conquistou durante sua carreira de procuradora-geral da Califórnia, cargo que ela conquistou através do voto público. E que explore ao máximo o discurso de que governará para a classe média, como fez quando era procuradora —além de investir em ataques a Trump.
Kamala: isolada, em treinamento
Antes do debate, o vice-presidente democrata passou o fim de semana reclusa em intenso treinamento com especialistas em debates.
Segundo a agência de notícias Associated Press, ela praticou respostas rápidas e em tom mais agressivo para fazer frente às características do debate: os dois candidatos só puderam entrar no estúdio da ABC News, emissora que organizou o enfrentamento, com uma caneta, papeis em branco e água.
Como no primeiro debate das eleições, entre Donald Trump e Joe Biden, em junho, não foi permitida nenhuma comunicação entre os candidatos e sua equipe — que ficaram do lado de fora do estúdio.
Além de ser uma prova de fogo para a candidata democrata estreante, o debate também pode ser a oportunidade de espantar o fantasma que assombra os democratas desde o enfrentamento entre Trump e Biden.
Na ocasião, o atual presidente norte-americano, também sem anotações prévias ou comunicação com sua equipe, teve um desempenho muito ruim: confundiu temas, mostrou-se apático e deu o pontapé para uma enxurrada de pedidos para que desistisse da corrida eleitoral, o que ele acabou fazendo cerca de um mês depois.
Pesquisa indica empate técnico entre Trump e Kamala
Trump: sem treinamento
Já Trump, experiente em debates e em oratória, disse que não se preparou para o enfrentamento e escolheu passar os últimos dias fazendo campanha nos chamados estados-chave, nos quais o apoio para um partido ou outro variam de acordo com as eleições.
Esse foi o principal motivo, inclusive, para que o local do debate fosse definido: o enfrentamento ocorrerá na Filadélfia, cidade na Pensilvânia, um dos estados onde o voto ainda não está definido. Nas duas últimas eleições, o partido apoiado pela maioria dos eleitores de lá foi o vencedor.
Por isso, embora historicamente os debates presidenciais dos EUA não tendem a se reverter em votos para um ou outro lado, a expectativa é que o enfrentamento desta terça rompa com essa lógica e se torne uma das peças decisivas do quebra-cabeça eleitoral dos EUA.
Como os dois candidatos aparecem em empate técnico nas últimas pesquisas de intenção de voto, o desempenho de cada um e até um desempenho mais fraco em apenas uma resposta pode definir os rumos do pleito.
O analista de mídia da Universidade de Maryland, Mark Feldstein, disse à agência de notícias AFP acreditar que, nessa equação, Kamala Harris correr mais riscos.
“Os riscos são maiores para Harris do que para Trump, porque ele já é muito conhecido, enquanto ela ainda precisa explicar quem é para a maioria das pessoas”, disse Feldstein.
Ainda assim, o analista político dos EUA Joshua Zive prevê que nem Trump nem Kamala devem se arriscar e tentar orbitar temas familiares a cada um —temas como imigração ilegal e alertas de uma “ameaça comunista”, no caso de Trump, e taxação a grandes empresas e ataques à gestão do ex-presidente republicano, no caso de Kamala.
“Nenhum dos dois têm motivos para correr grandes riscos”, disse Zive. Ele disse achar que, como as pesquisas estão muito apertadas, o pleito pode ser decidido por alguns milhares de votos.

Fonte da Máteria: g1.globo.com