Governo enfrentou derrota no Congresso esta semana, em meio a pressão para reduzir gastos. Lula estremeceu o mercado ao enfatizar que não vai apartar agenda social de economia, e precisou sair em defesa do ministro. Ministro da Fazenda Fernando Haddad.
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Os desafios do governo com a pauta econômica têm se acentuado ao longo desta semana, em meio a problemas de articulação no Congresso e dificuldades de arrecadação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no entanto, reiterou que não vai abrir mão da agenda social do governo, restando ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a responsabilidade de tentar abaixar temperatura no mercado.
Nesta quinta-feira (13), Haddad afirmou que a equipe econômica do governo vai intensificar a agenda de trabalho em relação aos gastos públicos, e que deve focar, nas próximas semanas, em fazer uma revisão “ampla, geral e irrestrita” das despesas.
“Nós vamos manter um ritmo mais intenso de trabalho nesse mês, porque o mês de julho começa a ser montada a peça orçamentária, e em agosto, como vocês sabem, a peça é encaminhada para o Congresso Nacional. Estamos botando bastante força nisso, fazendo uma revisão ampla, geral e irrestrita do que pode ser feito para acomodar as várias pretensões legítimas do Congresso, do Executivo, mas sobretudo para garantir que nós tenhamos tranquilidade o ano que vem”.
Haddad também falou em “rever o gasto primário e cortar privilégios”.
“Eu tenho dito isso, queremos também rever o gasto primário, estamos dispostos a cortar privilégios. Já voltaram à tona vários temas que estão sendo discutidos de novo, o que é bom, como supersalários, como correção de benefícios que estão sendo praticados ao arrepio da lei, melhoria dos cadastros, isso voltou para mesa, e nós achamos que é ótimo isso acontecer porque vai facilitando o trabalho de entregar as contas”, afirmou.
O ministro tentou colocar “panos quentes” na situação, após uma nova derrota do governo no Congresso, com a devolução da medida provisória do PIS/Cofins (relembre mais abaixo). O mercado financeiro tmbém reagiu negativamente a falas de Lula.
Ele afirmou na quarta-feira (12) não pensar a economia do país de forma apartada de medidas voltadas ao desenvolvimento social.
Após a declaração, o dólar subiu, avançou 0,86% e atingiu R$ 5,4066, maior patamar desde janeiro de 2023.
Nesta quinta, a promessa de Haddad de fazer uma revisão de gastos parece ter acalmado os ânimos, e a moeda interrompeu uma sequência de alta. Às 15h39, o dólar operava em queda de 0,62%, cotado a R$ 5,3733. No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,07%, aos 119.849 pontos.
Com uma maior percepção de risco interno em meio às incertezas com o quadro fiscal, os investidores voltaram a monitorar falas do ministro da Fazenda.
LEIA TAMBÉM
Após reação negativa do mercado a declarações de Lula, Haddad fala em revisar gastos do governo
Dólar interrompe sequência de altas e cai a R$ 5,36, após Haddad falar em revisar gastos públicos; Ibovespa recua
Lula sai em defesa de Haddad e diz desconhecer ‘pressão’ sobre o ministro da Fazenda
Ana Flor: Lula foi alertado de desgaste de Haddad
Ministro tensionado
A situação começou a se complicar ainda na terça-feira (11), quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu devolver ao Executivo a medida provisória que muda regras de dedução do PIS/Cofins para compensar a perda deste ano com a desoneração da folha de pagamento de 17 setores.
O texto, defendido por Haddad e secretários, alterava regras do PIS/Cofins para elevar receitas e compensar as despesas com a desoneração da folha de pagamentos. A expectativa era de que a MP fosse gerar aumento de R$ 29 bilhões na arrecadação em 2024.
Pacheco acabou devolvendo a medida sob argumento de que o texto, ao alterar regras sobre tributos, deveria adotar um prazo para que essa mudança passasse a valer. Esse é o princípio da noventena. Antes de ser devolvida, a MP foi muito criticada por empresários, que disseram que o texto geraria inflação.
O movimento foi visto como mais uma derrota para o Executivo e, de com a colunista do g1 Andréia Sadi, Haddad vem recebendo pressão de setores do PT e também tem sido questionado pelo mercado financeiro acerca de sua capacidade para concretizar a agenda econômica do governo.
Coube a Lula, então, sair em defesa do ministro. Em viagem à Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira (13), o presidente classificou o titular da Fazenda como “extraordinário” e negou qualquer tensão sobre Haddad.
“Não tem nada com o Haddad, ele é extraordinário ministro, não sei qual é a pressão contra o Haddad. Todo ministro da Fazenda, desde que eu me conheço por gente, ele vira o centro dos debates, quando a coisa dá certo, quando a coisa não dá certo”, declarou o presidente da República.
Lula também respondeu sobre a MP do PIS/Cofins e disse que, com a devolução da MP, caberá ao Senado e a empresários encontrar uma alternativa para compensar a desoneração.
“O Haddad tentou ajudar os empresários construindo uma alternativa à desoneração feita para aqueles 17 grupos de empresários. Que nem deveria ter sido o Haddad para assumir essa responsabilidade, mas o Haddad assumiu, fez uma proposta. Os mesmos empresários não quiseram. Então, agora tem uma decisão da Suprema Corte, que vai acontecer. Se, em 45 dias não houver acordo sobre compensação, o que vai acontecer? Vai acabar a desoneração”, disse Lula.
“Agora, a bola não está mais na mão do Haddad. A bola está na mão do Senado e na mão dos empresários. Encontrem uma solução, o Haddad tentou. Não aceitaram, agora encontrem uma solução”, completou o petista.
Fonte da Máteria: g1.globo.com