Disco junta o quarteto com Alceu Valença, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Guinga, Ivan Lins, João Bosco, Milton Nascimento e Paulinho da Viola, mas peca ao ignorar contribuição feminina à MPB. Capa do álbum ‘60 anos de MPB’, do grupo MPB4
Divulgação
Resenha de álbum
Título: 60 anos de MPB
Artista: MPB4
Edição: Biscoito Fino
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Show de lançamento do álbum 60 anos de MPB programado para 10 de julho no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro (RJ).
♪ No mundo a partir de sexta-feira, 5 de julho, com capa que reproduz a estética visual dos discos da gravadora Elenco na década de 1960, o álbum 60 anos de MPB é o melhor disco que o MPB4 pode fazer diante das ausências irremediáveis de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 – 8 de agosto de 2012) – o Magro, responsável pela identidade vocal desse grupo fluminense profissionalizado em 1964 a partir de trio surgido em 1962 no meio estudantil de Niterói (RJ) – e de Ruy Faria (31 de julho de 1937 – 11 de janeiro de 2018).
Substitutos de Magro e Ruy, respectivamente, Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti Pauleira se juntaram aos remanescentes Aquiles Reis e Milton Lima dos Santos Filho, o Miltinho, para manter o MPB4 em cena.
Com arranjos de Dori Caymmi, o álbum 60 anos de MPB tenta resumir em 12 faixas a trajetória de um grupo que durante 20 anos, de 1964 a 1984, foi uma das mais completas traduções da MPB em discografia que se tornou revisionista a partir da segunda metade da década de 1980 por imposições mercadológicas.
Como o título já sinaliza, 60 anos de MPB é álbum também (justificadamente) revisionista pelo propósito de festejar os 60 anos de vida do quarteto. Ainda assim, entre as 12 regravações, há várias músicas até então nunca gravadas pelo MPB4.
É o caso da composição que abre o disco, Notícias do Brasil (Os pássaros trazem) (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981). O grupo dá Notícias do Brasil em fluente gravação feita com Milton Nascimento, um dos muitos ícones da MPB convidados a se juntar ao grupo no disco.
Na sequência, o registro de O cantador (Dori Caymmi e Nelson Motta, 1967) sobressai como momento em que o arranjo vocal da faixa mais evoca os áureos tempos do MPB4.
Após cair no suingue de dois sambas, Prêt-a-porter de tafetá (João Bosco e Aldir Blanc, 1984) e Caso encerrado (Toquinho e Paulinho da Viola, 1999) com os respectivos autores João Bosco – craque nas quebradas – e Toquinho, o MPB4 entra no mar da parceria de Ivan Lins e Vitor Martins para mergulhar com cordas na calmaria da paixão poetizada em Velas içadas (1979).
Regravada pelo quarteto com Ivan, a canção ganhou registro fonográfico do MPB4 em 1998 em disco, Somos todos iguais, dividido pelo grupo com o Quarteto em Cy. As velas são içadas com o requinte harmônico da obra de Ivan Lins em outra faixa sobressalente.
Na pisada do baião, o MPB4 faz Dança do corrupião (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2010) com Edu Lobo e com certa vivacidade que se contrapõe ao lamento político de Angélica (1977), parceria de Miltinho com Chico Buarque, convidado da gravação adornada com sofisticado arranjo vocal.
A lembrança de Catavento e girassol (Guinga e Aldir Blanc, 1993) é relevante por marcar o reencontro do MPB4 com Guinga, compositor lançado pelo grupo há 50 anos no álbum Palhaços & reis (1974). Guinga canta na gravação.
Já o samba Coisas do mundo, minha nega (1968) – gravado pelo grupo com Paulinho da Viola, compositor do samba até então inédito com o MPB4 – se ressente da falta da interiorização elegante dos registros do autor enquanto a gravação de Na primeira manhã (Alceu Valença, 1980) é valorizada por arranjo vocal meio dissonante, em sintonia com os versos angustiados de Alceu, convidado da faixa.
Após rebobinar a recente e forte canção Paz e amor (2020), gravada pelo MPB4 com os autores Kleiton & Kledir e lançada há quatro anos em single que reuniu o grupo e a dupla, o quarteto arremata o álbum 60 anos de MPB com Parceiros (1984) em gravação com Francis Hime, parceiro de Chico Buarque e Milton Nascimento neste samba-canção que funciona como um resumo da caminhada já sexagenária do MPB4.
De fato, Aquiles, Miltinho, Magro / Dalmo Medeiros e Ruy Faria / Paulo Malaguti Pauleira cruzaram caminhos, correram o verde do tempo e falaram de amor, entre outras rimas, com os corpos possuídos pelo som e pelo canto que partiu em viagens até onde o quarteto nem podia pensar.
Embora cometa o grave deslize de ignorar a contribuição feminina à MPB nessas seis décadas (não há uma mulher sequer entre os compositores das 12 músicas e entre os intérpretes convidados para cantar no disco), o álbum 60 anos de MPB é bonita síntese desse tempo e desses caminhos em que o grupo se cruzou com a música brasileira.
Fonte da Máteria: g1.globo.com