Ana Flor: Copom agiu para segurar inflação
Os votos de indicados por Lula ao Banco Central (BC) para manutenção da taxa de juros já estavam “na conta” do Palácio do Planalto e não devem abalar a relação do presidente da República com diretores, em especial o de Política Econômica, Gabriel Galípolo.
Galípolo é o mais cotado para suceder a Roberto Campos Neto, que termina seu mandato na presidência do BC no final deste ano, e havia especial dúvida entre agentes do mercado financeiro sobre como ele votaria.
Segundo relato de assessores próximos a Lula ao blog, o presidente foi convencido nos últimos dias de que ainda mais danoso do que a manutenção da taxa de juros em um patamar alto de 10,5%, seria mais uma demonstração de divisão do Conselho de Política Monetária (Copom), como a que ocorreu em maio, quando a queda da Selic se deu por 5 votos a 4, com todos os indicados por lula sendo vencidos.
Atual composição do Copom.
Raphael Ribeiro/BCB
Como Lula sabe que tem minoria hoje no BC, situação que vai se reverter a partir do próximo ano, o presidente chegou a externar em uma reunião que Campos Neto tem grande influência no colegiado e teria a maioria nesta reunião para manter as taxas de juros intactas.
Um ministro afirmou ao blog que Lula sabia que não seria bom ter seus indicados – em especial Galípolo – expostos numa divergência que aumenta incertezas sobre a condução da política monetária.
‘Coisa desajustada’
Na entrevista à rádio CBN nesta terça-feira, Lula atacou o atual patamar da taxa de juros e vociferou contra o presidente do BC, que acredita estar atuando de forma política, não técnica.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país”, disse o presidente.
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Divergências entre integrantes de conselhos monetários são normais, em especial em ambiente de autonomia, mas a decisão de maio levantou dúvidas sobre as motivações dos diretores, em especial num momento em que se sabe que o presidente da República está para anunciar seu indicado para comandar o BC a partir de 2025.
Havia elementos suficientes para defender tecnicamente a manutenção da Selic em 10,50%: perspectiva de inflação mais alta neste ano e no próximo, dólar em alta e uma situação externa ainda mais incerta, apontando para uma manutenção de juros altos lá fora, em especial nos Estados Unidos.
Lula mudou nas últimas semanas, passando a se reunir com a equipe econômica para tratar de enxugamento de gastos. O que antes era um tema quase proibido, o corte de gastos, passou a ser discutido na sala do presidente, que quase diariamente ouve seus ministros econômicos e determinou não só um pente fino para detectar fraudes em programas sociais, mas um estudo sobre a qualidade dos gastos públicos.
Fonte da Máteria: g1.globo.com