Na diplomacia internacional, convocar um embaixador representa repreensão ao país onde o embaixador estava. Especialista destaca que, nesses casos, os convocados devem apresentar um panorama das relações bilaterais, enquanto outros diplomatas de menor hierarquia mantêm as atividades essenciais. Maduro
Leonardo Fernandez Viloria/Reuters
Nesta quarta-feira (30), a Venezuela chamou seu embaixador em Brasília de volta para Caracas. Em comunicado, o governo de Maduro também criticou as falas do assessor presidencial Celso Amorim, que mencionou uma “quebra de confiança” entre Brasil e Venezuela, classificando-as como “intervencionistas e grosseiras”.
Este é um novo capítulo da crise diplomática entre os governos de Brasil e Venezuela. De acordo com o Blog da Julia Duailibi, o Itamaraty não deve responder publicamente ao gesto.
O que chamar um embaixador de volta significa para a diplomacia?
A convocação de um embaixador é uma espécie de repreensão de um país a outro na linguagem diplomática internacional.
“Em geral, é um gesto importante, porque na diplomacia qualquer movimento ou não movimento tem significado”, explicou ao g1 Carolina Silva Pedroso, professora de Relações Internacionais na Unifesp.
“A retirada do embaixador configurou, em algum momento, o aceno prévio à declaração de guerra, porém, com o tempo, esse tipo de situação foi se tornando mais comum na diplomacia e passou a ser um primeiro passo antes de uma eventual ruptura diplomática e representa mais uma reprimenda pública a alguma posição do outro país do que qualquer outra coisa”.
Ou seja, o gesto não indica um rompimento na relação entre o Brasil e a Venezuela, mas é um sinal importante de estremecimento das relações bilaterais, normalmente causado por discordâncias intensas em algum tema.
O que geralmente ocorre depois de uma retirada assim?
Segundo a especialista, nesses casos, é comum que os embaixadores sejam chamados pelo governo de seu país para oferecer um panorama das relações bilaterais.
Enquanto isso, outros representantes diplomáticos, de cargos hierarquicamente inferiores, continuam realizando normalmente as atividades essenciais.
“Isso ocorre porque uma tensão política entre os países não implica necessariamente que as demais relações, como as comerciais, financeiras e logísticas, sejam interrompidas. Essa continuidade é fundamental para um eventual retorno à normalização das relações diplomáticas, já que é necessário defender os interesses dos cidadãos brasileiros que vivem na Venezuela, assim como os do capital privado”, explica a professora da Unifesp.
“Isso não implica que concordem em todos os assuntos, mas que possam manter uma relação cordial no âmbito bilateral”.
Veja a íntegra do comunicado do Ministério das Relações Exteriores venezuelano:
“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos Brics em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.
Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.
Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.”
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Fonte da Máteria: g1.globo.com