Seriados com tramas que mostram casais atraentes em paisagens bucólicas e com uma mensagem sobre ser fiel a si mesmo fazem sucesso sobretudo entre mulheres heterossexuais.
Cena da série ‘Love por chance’
Divulgação
Huang Bingbing, uma mulher chinesa de 36 anos, assegura que no pior momento de sua vida, afundada na depressão, encontrou consolo assistindo a uma série tailandesa sobre a história de amor entre dois homens, um tipo de produção que causa furor na Ásia.
“Todos os amores são válidos, sem importar que sejam homens, mulheres ou pessoas de um terceiro gênero”, afirma Huang. Ela deixou seu povoado na China para emigrar para a Tailândia, levada pelo amor às séries românticas de temática LGBTQIA+ produzidas no país.
Uma delas, intitulada “Love por Chance”, produzida em 2018, conta a história de um “amor imaturo” entre dois homens. Huang assegura que a série a salvou de uma dura depressão que a acometeu há cinco anos.
O gênero “Boys’ Love” (amor entre rapazes ou BL) se popularizou no Japão nos anos 1960, representado em mangás chamados “yaoi”. Mas, juntamente com seu equivalente feminino, o “Girl’s Love (amor entre meninas ou GL), se tornou um fenômeno cultural internacional graças às produções tailandesas.
Estas séries com tramas que mostram casais atraentes, em paisagens bucólicas e com uma mensagem sobre ser fiel a si mesmo, fazem sucesso particularmente entre mulheres heterossexuais.
Qual a influência cultural dessas séries?
Cartaz da minissérie japonesa ‘Yuri or Another’, do gênero GL ou ‘Girls Love’
Divulgação
Essas séries tornaram “muito populares” durante a pandemia de covid-19, diz Kira Thu-Ha Trinh, seguidora do BL. “Pode parecer grosseiro, mas os tailandeses o fazem melhor”.
Até mesmo a China foi conquistada por estes dramas, mas desde 2021, o governo comunista proibiu as empresas nacionais de produzir ou divulgar séries do tipo. “Nós gostamos e vamos encontrar formas de continuar assistindo-as”, assegura Huang Bingbing.
Para a Tailândia, o sucesso de suas séries é uma ferramenta para desenvolver sua influência cultural no mundo, em plena campanha do governo para melhorar sua imagem internacional, com o objetivo de atrair turistas e incentivar as exportações, duas fontes de renda muito necessárias para o país após o impacto da pandemia na economia.
O número de BL produzidos na Tailândia passou de 19 entre 2014 e 2018 para 75 em 2022, afirma Poowin Bunyavejchewin, especialista em Sudeste Asiático da Universidade de Thammasat, em Bangcoc.
Segundo ele, estas séries são populares até mesmo em países mais conservadores, como Índia, Indonésia e Malásia, embora seus fãs sejam discretos.
“Há grandes comunidades de fãs, mas não podem dizê-lo publicamente, pois podem sofrer pressões socioculturais” e religiosas, acrescenta.
Na Tailândia, a comunidade LGBTQIA+ tem mais visibilidade e tolerância do que em qualquer outro país do continente e se espera que o governo legalize o casamento homoafetivo nas próximas semanas.
Apesar da popularidade, estas séries não refletem de forma realista a vida das pessoas desta comunidade na Tailândia, onde os ativistas consideram que ainda há trabalho a fazer para mudar a mentalidade.
“A vida dos homens homossexuais na Tailândia pode ser bastante trágica. Têm problemas familiares. Mas ninguém quer falar sobre o assunto”, explica Poowin.
O ator Suppapong Udomkaewkanjana, protagonista de “Love por chance”, criou sua própria produtora audiovisual em 2020 para desenvolver histórias que vão além do romance.
O tailandês de 26 anos se reuniu em um templo de Bangcoc com o elenco de sua última série, um GL, para rezar por seu sucesso. “Com os BL, acho que há oportunidades para defender a igualdade de gênero e o casamento igualitário”, afirmou.
Fonte da Máteria: g1.globo.com