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Saque-aniversário do FGTS: quais os efeitos da injeção de R$ 12 bilhões, segundo os economistas


Especialistas consideram que os efeitos serão limitados e não devem movimentar tanto a atividade, apesar de representarem uma pressão momentânea na inflação. Governo vai permitir saque total de FGTS pelo saque-aniversário
O governo federal anunciou uma mudança temporária nas regras de quem optou pelo saque-aniversário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que deve injetar R$ 12 bilhões na economia brasileira.
A medida completa será publicada na sexta-feira (28), mas já se sabe que vai liberar o saldo do fundo para os trabalhadores do saque-aniversário demitidos de janeiro de 2020 para cá.
Entre economistas e especialistas do mercado financeiro, há temores de que a injeção de dinheiro seja apenas uma medida para recuperar a popularidade de Lula entre os trabalhadores, e possa, como consequência, superaquecer a economia e pressionar mais a inflação.
O g1 procurou os analistas para entender quais os impactos que a mudança no FGTS pode trazer para a economia brasileira. Veja abaixo:
O que muda com a nova regra do FGTS?
O que pensam os especialistas?
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Jornal Nacional/ Reprodução
O que muda com a nova regra do FGTS?
➡️ COMO ERA? Em 2019, o governo de Jair Bolsonaro criou a modalidade de saque-aniversário para o FGTS, que permite ao trabalhador sacar uma parte (entre 5% e 50%) do total dos recursos disponíveis na conta no mês de seu aniversário.
Quem opta por essa modalidade perde o direito de sacar todos os recursos do fundo em caso de demissão sem justa causa, o que só é permitido no “saque-rescisão”.
Pela regra da modalidade, o trabalhador recebe a multa rescisória de 40% ao saldo depositado pela empresa na conta, mas o dinheiro em si fica retido para os saques de aniversário.
O trabalhador pode solicitar a volta para a modalidade do saque-rescisão, mas a mudança só é efetivada após dois anos e não dá direito ao resgate dos valores referentes à demissão passada.
➡️ COMO FICA? Agora, o governo Lula permitirá, por tempo determinado, que os trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário e foram demitidos sem justa causa de janeiro de 2020 para cá saquem o montante disponível na conta.
Inicialmente, o saldo será liberado até o limite de R$ 3 mil.
Para valores superiores, o saldo só será liberado após 110 dias da publicação da medida.
A medida valerá por tempo limitado, e será detalhada na sexta-feira. Ao final do período, os trabalhadores optantes pelo saque-aniversário e que forem demitidos voltam à regra antiga: terão o saldo retido e recebem apenas a multa de 40%.
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O que pensam os especialistas?
A nova medida vai beneficiar 12,1 milhões de pessoas, que receberão R$ 12 bilhões. Para Jason Vieira, economista-chefe da Lev, essa injeção de dinheiro tem potencial de aumentar a inflação.
“São recursos que estão indo direto para a economia. Ainda há uma parcela da população endividada, e isso, em parte, vai para limpar o portfólio de dívida. Mas, ao mesmo tempo, há um problema de inflação”, afirma Vieira.
Outra parte dos especialistas ouvidos pelo g1, porém, considera que o montante de dinheiro não é suficiente para superaquecer a economia, mesmo que a medida incentive o consumo e gere uma pressão momentânea nos preços.
Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, estima que, considerando um salário médio no Brasil de R$ 2.500 e 100 milhões de empregados, a faixa de giro mensal na economia é de R$ 250 bilhões, fazendo com que os R$ 12 bilhões não sejam tão relevantes.
“Não entendemos que esse valor irá ter algum efeito visível. Trata-se de uma tentativa de melhorar a popularidade do governo”, diz Souza.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, tem uma visão parecida e afirma que a medida é “muito mais discurso do que efeito econômico” e que o valor não chega nem a 0,01% do PIB no que diz respeito ao consumo das famílias.
“Esse dinheiro estará disponível para quem quiser. Poderá ser utilizado, por exemplo, para pagar conta – estamos com um índice de endividamento das famílias muito elevado. Pode ser também para ficar guardado”, diz Agostini.
“Eu não creio que tenha potencial para estimular a economia, dado o que ele representa de impacto para o PIB. É quase nada.”
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BCG Liquidez, ainda aponta que é difícil estimar os impactos quantitativos da medida, mas que qualitativamente a decisão vai na contramão do que o mercado espera do governo.
“A medida vai no sentido contrário ao esforço do Banco Central de adequar o ritmo de crescimento da economia, de modo a permitir um processo desinflacionário e de ancoragem de expectativas para o centro da meta”, diz Cunha.

Fonte da Máteria: g1.globo.com