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'Twin Peaks': David Lynch revolucionou a história da TV ao criar essa obra-prima


David Lynch em cena de Twin Peaks
Divulgação/Showtime
Não vou esconder o fato de que lá em 2017 eu estava cheia de preconceito e com um pouco de má vontade quando fui dar play na terceira temporada de “Twin Peaks”, que estreava mais de 25 anos depois do final da série que revolucionou a televisão. Meus motivos eram nobres.
Porque não foi só com o mistério “quem matou Laura Palmer” que David Lynch mudou a história das séries de TV – o ano era 1990, ninguém nem sabia o que era internet, mas todo mundo se mobilizava semana a semana para criar teorias sobre o que diabos estava acontecendo naquela cidadezinha aparentemente pacata em que o corpo de uma garota popular apareceu envolto em plástico na beira do rio.
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Para além da investigação sobre o misterioso assassinato, Lynch criou, junto com o roteirista Mark Frost, todo um universo surreal, com cenas tiradas diretamente de algum sonho, com elementos paranormais, um certo teor sexual, além de um humor finíssimo, de personagens totalmente improváveis (sério, a mulher do tronco!) e uma história que rompia com todo e qualquer padrão do que se conhecia como série de TV.
E ele não fez tudo isso numa HBO da vida – foi na ABC, uma das grandes emissoras de TV aberta nos Estados Unidos (aqui, aliás, a série era exibida nos domingos à noite da Globo).
Claro que toda essa inovação teve seu preço. A emissora começou a pressionar por um desfecho, pela resolução do mistério, e “Twin Peaks” foi cancelado já na segunda temporada, com um final meio esquisito. Mas o estrago já estava feito – a série, que depois ainda ganhou continuação em dois longa-metragens, já tinha mostrado que a televisão era, sim, um meio para grandes obras, grandes diretores, grandes ousadias.
E foi por isso que, em 2017, eu torci meu nariz para a volta de “Twin Peaks”. Para que mexer tantos anos depois numa obra de arte, na série mais cult de todos os tempos? Por que a gente não podia, simplesmente, reassistir às duas primeiras temporadas, lembrar como tudo era bom e genial, sem correr o risco de estragar uma história tão boa?
Mas felizmente, muito felizmente, eu estava total e completamente errada. A terceira temporada de “Twin Peaks”, que estreou 26 anos depois do cancelamento da série e com todos os 18 episódios dirigidos por David Lynch, é uma das melhores coisas que a TV já produziu. Na história da humanidade.
Viajante, onírica, hilária, nostálgica, belíssima, com uma trilha sonora de primeira, a temporada trouxe David Lynch na sua melhor forma. Um novo final, mais mistérios, personagens que retornaram mais legais do que a gente lembrava deles.
Um gênio é um gênio. Hoje é um dia triste, o dia em que morreu o gênio David Lynch, aos 78 anos. Mas também é um dia para a gente lembrar de ficar de olho no donut, e não no buraco, e talvez começar a reassistir a essa belezura que Lynch nos deixou. Descanse em paz.

Fonte da Máteria: g1.globo.com